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A patrulha gramatical ou: da dor de não saber

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Como que monta, mãe?
Como que monta, mãe?

As pessoas cometem erros gramaticais incríveis na internet, eu sei. Acredite, eu leio, escrevo e reviso milhares de caracteres por dia e não tem nada que faça meu estômago revirar mais fácil do que um “fássio”. Mas antes de sair dando indiretas no Facebook ou dar print screen no erro dos outros, eu tento parar e pensar sobre algumas coisas:

A primeira questão é que eu sou uma pessoa muito privilegiada nesse país. Eu tive acesso a uma boa escola, tenho boa capacidade de aprendizado, tenho pais que me incentivaram o hábito de leitura desde cedo e tive acesso ao ensino superior. Além disso, sou jornalista, tenho a língua portuguesa como objeto de trabalho, o que me dá o privilégio de saber mais do que a média quando o assunto é coesão textual ou regras gramaticais.

Mas a maioria das pessoas não teve a mesma vida que eu. Muita gente não teve oportunidade de estudar, porque tinha um trabalho integral aos 12 anos ou porque a escola era muito longe. Outros até frequentaram bons colégios, mas têm problemas de aprendizado. Outros ainda acabaram focando totalmente em outras áreas, por causa da dificuldade com o português e com as matérias de humanas.

Então quando a gente aponta o dedo e critica uma pessoa que não sabe escrever de modo correto, nós estamos fazendo isso de uma posição muito superior a ela, e isso, na minha opinião, é extremamente cruel. É como se você visse um cara sem um braço na rua e começasse a rir porque ele não consegue fechar o zíper do casaco. E isso vale mesmo que seja uma indireta ou um comentário sem alvo definido.

Eu já conheci pessoas maravilhosas que têm tanta habilidade com textos quanto eu tenho com uma britadeira. E o que mais me dói é que isso é extremamente embaraçoso para elas. Minha avozinha linda, por exemplo, nunca respondeu nenhuma das cartas que eu mandei, porque ela morre de vergonha de ser semi-analfabeta. Mal sabe ela que eu ia amar até se ela me mandasse um coração desenhado num guardanapo. O que são um monte de rabiscos, perto de todas as rezas que ela já fez para mim na vida?

Essas pessoas sempre fizeram parte da nossa vida e tentaram esconder o fato de não dominarem a língua como nós (sem duplo sentido, please). Mas agora a geração mais nova delas ganhou um computador, no qual se pode perguntar e errar sem que ninguém veja e julgue. Essas pessoas podem entrar no Google no quarto delas e aprender, clique após clique, o que seus pais não tinham coragem de perguntar. Elas provavelmente são a primeira geração da família que pode opinar entre as pessoas “relevantes”, seja contra a corrupção no Senado ou seja a favor do corte de cabelo do Justin Bieber.

A gente pode até criticar quem trocou “s” com “c”. Mas temos que saber que essa cutucada é feita de um plano muito privilegiado em relação a quem recebe, e pode acabar se transformando num soco na barriga. E de estômago revirado aqui, basta o meu.

Uma cidade mais útil

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Um grupo de designers franceses percebeu que a cidade em que viviam precisava ser mais criativa e humana. Então decidiram criar pequenas ferramentas que transformavam e davam novos usos para bancos, cabines telefônicas, máquinas de café. Assim, as pessoas que iriam jogar uma sacola no lixo poderiam deixar a embalagem em um compartimento especial para que outros reaproveitassem o material. Cabines telefônicas ganharam carregadores de celular e muros ásperos ganharam ganchos para pendurar roupas.

Achei interessante. Me fez pensar que as pessoas que usam os espaços públicos são justamente as que têm mais conhecimento para interferir na cidade.

Maquininha de transformação

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On Flickr by eschipul (cc)

Hoje eu subi um degrauzinho na escadaria da minha evolução pessoal.

Foi assim: precisava sair 19h30 do trabalho, para resolver uma pendência que está pendente há dias. Pedi e avisei com antecedência, mas faltando 10 minutos, me cai uma pilha de tarefas no colo. Conclusão: a pendência voltou para a pilha das “tarefas urgentes e não-cumpridas”.

Fiquei com raiva. Torci o nariz, amarrei o burro e fiquei resmungando comigo mesma por uns bons cinco minutos. Depois refleti: a situação é injusta? É. Afinal, esse é o horário normal em que eu deveria sair do trabalho (o que eu pedia era pra não fazer hora extra hoje). Além disso, se essa pendência não for resolvida logo, vai passar para o status de problema sério. Mas o que eu ia fazer? Subir em cima da mesa e sapatear?

Há alguns anos atrás, eu iria de burro amarrado para casa. Provavelmente seria grossa com várias pessoas no meio do caminho sem nem dar a elas a chance de entender o motivo do meu mau-humor. Talvez até fizesse birra e descontasse a questão na qualidade do trabalho. Lidar com a raiva, com o rancor e com a frustração é uma questão delicada para mim desde a infância. Quando criança, vez ou outra eu tinha surtos de ódio e descontava quebrando objetos (as pessoas nunca, ainda bem). Um tampo de vidro trincado, um sulco de caneta na parede e uma lixeira quebrada são resultado do meu furor.

Com o tempo, e com o apoio de pessoas muito especiais que tiveram paciência comigo, tenho feito progressos nesse quesito. Por isso, hoje fiz uma forcinha, acionei minha maquininha de transformação interior e me lembrei de um provérbio budista: “se não dá para mudar uma situação, você pode pelo menos mudar sua atitude em relação a ela”. Então, já que o compromisso estava perdido, aproveitei para relaxar e fazer o restante das minhas tarefas com tranquilidade e atenção. Em paz.

Terminado o serviço, surge mais um pepino. Pois não fiz corpo mole, fui atrás da solução. Saí do trabalho já ia uma hora depois do combinado. Em tempos passados eu chegaria em casa trazendo um pacotinho com o meu mau-humor, um rancor amargo e até talvez a incompreensão dos outros. Mas hoje eu voltei com um mix de paz interior com reconhecimento pelo trabalho cumprido e um tapinha nas costas de brinde. Ponto para mim.

Ingresso no balão

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Lucas Jatobá é brasileiro e morou em Barcelona por três anos. Gostou tanto da cidade que, quando decidiu se mudar, quis deixar um presente. Então ele comprou sete ingressos para o teatro, os amarrou em balões com uma cartinha doce e soltou pela cidade. Uma agência viu o vídeo no Twitter e decidiu ampliar a ideia. Comprou 250 ingressos e 250 balões para que Lucas soltasse pela cidade.

Não é lindo? De dar lágrimas nos olhos de uma coração-de-pudim feito eu. A criatividade brasileira é o que há!

Vi aqui.

Divagações no ponto de táxi

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cc on Flickr by stevecadman
Eu bem que queria entrar num táxi-fusca...

Estava eu lá, na fila de táxi do aeroporto, com uma sacola que cobria bem uns dois terços da minha altura (tá booom, uns dois quintos, vai). Fila gigante, de umas cinquenta pessoas, dessa vez sem exageros.

A coreografia era assim:

Chegava um táxi, o ajudante-de-ponto-de-táxi pegava a mala do primeiro da fila e ia correndo colocar no porta-malas. Uma única pessoa se encaminhava para o interior do veículo e este partia. A fila dava um passinho adiante.

Assim, um sem-número de vezes repetidos, os mesmos movimentos.

E eu lá no finalzinho pensando com meus botões: “ué, o táxi não tem quatro lugares? Se todos os lugares fossem ocupados, a fila andaria 4x mais rápido, teriam 4x menos táxis partindo do aeroporto e os passageiros pagariam 4x menos pela corrida. Não é possível que não existam quatro pessoas que não estejam indo para o mesmo lugar aqui, ou pelo menos para lugares próximos, ou lugares-que-são-caminho uns dos outros”.

Eu, que só tinha R$ 20,00 na carteira e teria que pegar táxi só até o metrô, bem que fiquei com vontade de perguntar pro meu vizinho de fila se ele topava dividir a corrida. Mas fiquei com vergonha. E segui quietinha na fila, imaginando um mundo ideal no qual a divisão de táxis surgiria espontaneamente entre estranhos.

Voltando atrás

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cc by D'Arcy Norman on Flickr
O sagrado direito de escolha

Quero voltar atrás em algo que eu disse.

Essa não é a primeira vez e não será a última, mas leiam com atenção. No post anterior disse que somos uma nação de malandros hipócritas. Quero retirar isso. Não é a verdade. Assim como também não é a verdade dizer que o Brasil é uma nação de gente alegre, ou de pessoas altamente criativas ou de mulheres sensuais e homens charmosos. Isso porque não se pode definir um país por um adjetivo ou dois. Não existe palavra no mundo, nem a melhor combinação delas que possa definir igualmente 190 milhões de pessoas. Nem duas. Nem uma. Se não há como definir um único ser humano como bom, mau, mimado, egoísta ou bondoso, o que dirá uma nação?

Vocês podem dizer: ah, mas a maioria dos brasileiros… Besteira. Ninguém nunca fez uma pesquisa para saber como a maioria dos brasileiros age. E se fizesse, também não seria confiável, porque uma pesquisa sobre algo tão subjetivo quanto as nossas qualidades morais simplesmente não diz a verdade.

Mas aí vocês me dizem: mas a visão que o mundo todo tem dos brasileiros… Mais besteira ainda. Não é só porque alguém repete algo sobre você todos os dias que isso passa a ser verdade. Só nós podemos definir a nós mesmos. E mesmo assim muito além de conceitos como “malandros hipócritas”.

Percebi que estava errada há uns 12 minutos atrás, durante uma conversa com uma amiga. Ela perdeu seu celular, e tem grandes evidências de que alguém encontrou o aparelho e não devolveu. Então ela se pôs a xingar os brasileiros. Instintivamente me pus a defender os brasileiros. Aí percebi: ops, eu não tinha não só dito, como escrito o contrário dias atrás? Afinal, qual é minha verdadeira posição? Xingar e defender uma nação de acordo com a minha conveniência não parece um pouco… hipócrita? De uma maneira um tanto quanto dissimulada?

[Pausa para compreender o paradoxo]

Fiz o que fiz (assim como espero que minha amiga tenha feito o que fez) por um motivo bem simples (mas não banal): estava com raiva. Estava profundamente com raiva de o mundo não ser como eu quero. De termos (porque também faço parte desse povo) dado nosso voto de confiança a alguém que, se não se importa com sua função, pelo menos age como se não se importasse, o que é pior ainda.

Fiquei com raiva porque, por mais que existam atos, boatos e sapatos que indiquem o contrário, ainda acredito que o sistema democrático foi construído visando algo supremo. Algo supremo como a união de pessoas simplesmente pelo reconhecimento que elas dependem e precisam profundamente umas das outras. Algo supremo como a execução de um esforço enorme para proporcionar paz, não para mim, mas para todos. Algo supremo como a construção, pela primeira vez na história da humanidade,  de instituições que visem o bem estar coletivo e ideais como Justiça, Paz, Compaixão, Igualdade, Fraternidade, Respeito. Prestem atenção: não disse que esses ideais foram alcançados, mas repito que a simples existência, reconhecimento e oficialização da busca por esses ideais representa muito.

E achei que a eleição do Tiririca tinha estragado tudo isso.

Mas quem sou eu pra achar alguma coisa, do alto dos meus míseros 24 anos? O processo de consolidação da democracia brasileira já dura mais de cem anos e vai continuar por muitos séculos depois que eu não estiver mais aqui. Quem sou eu para julgar em que ponto estamos? Talvez o Tiririca seja uma peça tão fundamental nesse processo quanto foi o movimento das Diretas Já.

O que preciso fazer é parar de julgar as  pessoas. E assim dar a elas a confiança de que podem fazer suas próprias escolhas. Um dia por vez.

 

PS: mas eu continuo achando extremamente errado falsificar carteirinha de estudante ou boleto da faculdade (olha meus amigos me odiando duplamente…).

Aplicando a multa moral

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Outro dia tive a oportunidade de aplicar minha primeira multa moral.

Foi em uma palestra do Carlos Heitor Cony. Além de ouví-lo falar, as primeiras 50 pessoas que chegassem ao local teriam direito de comprar o livro que ele lançou, Eu, aos Pedaços. Corri por vários quarteirões carregando um saco de ração de 4 kg e cheguei 40 minutos antes do horário, exausta e suada. Já havia uma fila considerável. Com o tempo as pessoas foram se cansando de ficar em pé. Algumas desistiram, outras pediram para guardar lugar e sentaram nos degraus da escada.

Comecei a conversar com um rapaz e uma moça que estavam na minha frente. Comentávamos que havia pessoas que tinham acabado de chegar e se aproximavam da fila, possivelmente com a intenção de burlar um lugar. Tive então a oportunidade de apresentar essa ideia nova da multa moral. As pessoas ao redor ficaram bem interessadas, de modo que distribuí vários exemplares pra difundir a ideia.

Entre as pessoas recém chegadas que paravam próximo à fila, havia um homem de camisa verde que chegou uns cinco minutos antes do horário e se postou ao lado da primeira pessoa. O cara batia papo tranquilamente, e a gente de olho, lá do meio da fila. “Parece que vai furar” dizia um senhor. “Ele chegou muito depois da gente” dizia uma moça.

Quem chegou antes tem direito. É ou não é?

De fato, na hora que a porta se abriu, lá foi o moço disfarçademente e, como quem já “estava com a turma” se esgueirou pra dentro do recinto. Não satisfeito com desrespeito, ele ainda teve o desplante de pegar o livro e ir embora. Ou seja: estava ali só pra faturar um exemplar a preço de banana.

Pois não titubiei. Preenchi o papelzinho, e na hora que o sujeito saía sorrateiramente, lhe chamei e estendi a multa. “O que é isso?” ele perguntou sem entender muito bem. “É uma multa moral, porque você furou a fila” disse eu, num tom cordial, porque também não é pra ofender. “Ah…” disse ele, sem graça. E foi embora.

Nós na fila rimos e sentimos que, de alguma forma, Justiça fora feita. Não que eu seja a paladina da moral agora, mas o gostinho foi bom e quem sabe o cara pense duas vezes da próxima vez?

Falassério, furar fila é um dos hábitos mais deploráveis. Não sei por que as pessoas acham que, se conhecem alguém que já está lá na frente, têm o direito de entrar junto com a pessoa, como se fizessem parte do “pacote”. Alguém entende?

Por um breve instante*

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Porque estamos todos no mesmo barco

Quando eu tinha 12 anos quis sair de uma grande escola na qual estudava para ir para outra pequenininha, que ninguém conhecia.

Eu era uma pré-adolescente extremamente tímida e insegura, e me sentia muito só. Além disso, eu falava tão baixo que a maioria das pessoas não entendia o que eu dizia. Parecia que tinha medo da minha própria voz.

A coordenadora então me chamou para uma conversa, para saber por que eu queria deixar o colégio. Não me lembro bem o teor da conversa, mas lembro que no final ela disse: “nunca deixe de dizer o que você pensa”.

Isso me marcou de uma maneira bem peculiar. Hoje, outros 12 anos depois, converso com todo mundo, falo em público numa boa e não tenho medo de trocar ideias, mesmo com quem sabe mais do que eu. Trabalho com comunicação e tenho este blog, no qual escrevo o que me dá na cachola. É claro que muitas outras coisas aconteceram (e é natural que pré-adolescentes sejam tímidas), mas não posso deixar de pensar que a frase dita naquele dia tenha me influenciado a mudar. Tanto é que me lembro dela até hoje, como um momento de epifania.

Isso é importante pra dizer que 10 segundos que você gasta com uma pessoa podem mudar a vida dela, para o bem ou para o mal. Outro exemplo é esse texto maravilhoso que a  Silviàmélia, minha amiga que foi minha professora, escreveu no seu blog, o Tapete de Penélope:

“Por uma estação

Sápassado estava eu na estação Barra Funda. Entrei em uma das baias para aguardar o metrô. Perto de mim cinco crianças pequenas com a mãe nervosa esperavam. Um menino de uns 4 anos se afastou um pouco dela. Com um menino de uns dois anos no colo, a mãe soltou a mão de outro menino de uns 3 anos e voou neste de 4 anos que se afastava rumo aos trilhos do metrô. Apertou o braço do menino, deu um safanão e depois um tapa no rosto. O menino ficou chorando baixinho.

O metro parou. Entrou a mãe, as cinco crianças pretinhas, eu e as demais pessoas. A mãe berrou “não é pra sentáááá, vamos descer na próxima estação, não é pra dar de folgado aê” enquanto puxava pelos cabelos as duas meninas mais velhas – de não mais que 9 anos – que faziam movimento de que iam se sentar a despeito da repreensão verbal. Por fim a mãe se sentou com o menino mais novo e os demais ficaram no corredor. O menininho que apanhou na estação ainda chorava  baixinho. Ele olhou pra mim e eu olhei pra ele. Falei discretamente, quase sem som “quer colo?”. Ele nem respondeu, veio pertinho e eu o coloquei no meu colo. Na hora a mãe e os irmãos apontaram zuando. Eu abracei o menino e falei em seu ouvido “você é muito lindo”. Ele ficou feliz. Balancei as minhas pernas fazendo “upa, upa” discretamente. Os irmãozinhos olhavam sem zuar, já com ciúmes. Ele não chorava mais. Falei no seu ouvido “já tá chegando, é aqui que vocês vão descer, né”. Ele fez sinal de sim com a cabeça e voltou a chorar. Mais um abraço e eu o coloquei de pé. Ele fez “tchau” com a mão.”

Precisa dizer mais?

*Isso é um pleonasmo? Se for eu tenho licença poética, tá?

Em terra de cego…

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Esse texto foi publicado em um outro blog meu, que anda meio abandonado, o Papel sem Pauta. Foi escrito em 21 de setembro de 2008.

Acho que cabe bem aqui.

“Fazia algum tempo que eu não sofria de alguma forma um preconceito. Não pertenço a muitas minorias na verdade. Tirando o fato de ser mulher, que até não costuma ser tão limitante, costumo ser bem atendida nos lugares. Me lembro de sentir preconceito quando eu era criança, geralmente não se dá muita atenção a elas. Hoje ainda percebo isso um pouco pelo fator feminino, sempre se espera que o homem pague a conta, que o chopp seja pra ele, que ele entre na briga.

Pois bem, mas o fato é que ontem, fui a um restaurante mais arrumadinho. Não estava vestida de modo desleixado nem nada, estava bem arrumada. Sentei, a procura de um garçon com o cardápio. Nada de aparecer um. Depois de um tempo, uma casal um pouco mais velho se senta na mesa do lado. Eis que surge imediatamente um garçon, com dois cardápios na bandeja, me comprimenta amigavelmente, passa por mim e vai entregar os dois cardápios para o casal da mesa do lado.

Fiquei pensando, e deve ser a sensação que muita gente tem por aí quando é desrepeitado pela cor, pela orientação sexual ou simplesmente por usar chinelos: “O que foi que eu fiz?”. Cheguei à infeliz conclusão de que o casal do lado tinha cara de quem ia gastar mais dinheiro do que eu (verdade, diga-se de passagem). Então o garçon não via pessoas, que chegaram umas antes das outras, e estão esperando. Ele só via cifrões na frente dele.

Continuei na minha luta por atenção e por um cardápio. Foi aí que apareceu um garçon gentil, que foi o único que nos atendeu durante toda a noite, porque era o único que via quando eu chamava. Mas o fato mais especial nele era este: ele só enxergava com um olho. Tinha um tipo de problema no olho direito que deixa as pessoas com a iris embranquecida.

Foi que aí que eu percebi. Para ver as pessoas ao nosso redor a gente nem sempre usa os olhos.”

Machismo, a burca brasileira

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by Made Underground (flickr/cc)

Desde que decidiram que o homossexualismo é uma ofensa, o futebol se mostrou um campo fértil para a homofobia. Para ofender o torcedor do time adversário, basta fazer comentários sobre a orientação sexual da torcida ou dos jogadores do time. Isso tudo porque, teoricamente, “futebol é coisa de macho” e macho que é macho gosta é de mulher. Mesmo que uma jogadora brasileira tenha sido eleita a melhor do mundo e que milhares de homens gays usem de uma enorme dose de coragem para não viverem amarrados pelo que sua avó acha ser o certo.

Nesse sábado, um colunista do jornal O Tempo escreveu um artigo falando sobre esse assunto, e como a torcida do cruzeiro estava associada ao mundo gay. Vejam bem, ele não teve a intenção de dizer que a torcida cruzeirense é composta de homossexuais, e sim traçou hipóteses sobre os motivos dessa associação. Só que o fato de ele ser gay e cruzeirense falou mais alto que tudo que ele escreveu.

Nos comentários, dezenas apagados por conterem ofensas ou palavrões, há desde ofensas à credibilidade do jornal até “piadas” sobre a sexualidade de atleticanos e cruzeirenses. O fato de a torcida do cruzeiro ter um torcedor gay virou uma piada tão grande que eu não consegui distinguir os comentários sérios dos jocosos.

E o que eu tenho a ver com isso, se não sou homem, não sou gay e não gosto de futebol? Tudo. Porque é esse tipo de pensamento e raciocínio que idolatra o machismo que coloca essa “filosofia” no nosso caminho todos os dias. E é por isso que quando eu e inúmeras mulheres aparecem em um ambiente predominantemente masculino, como construções, bares, oficinas, e outros, sempre somos encaradas como um pedaço de carne que está ali puramente para o “entretenimento” dos “machos”.

Levei muito tempo para me sentir bem usando saia sem meia-calça, simplesmente por causa desse comportamento idiota. E muitas mulheres ainda têm medo (medo mesmo) de usar determinadas roupas, porque sabem que os homens vão ficar olhando, fazendo piadinhas, comentando. Nesse cenário, pra quê burca, se temos toda a censura social a favor do machismo?

E isso lembra, é claro, a aluna da Uniban, que foi quase linchada e estuprada por centenas de universiatários que acharam que ela estava “causando” por usar uma mini-saia rosa! Imagina quantas meninas mais não ficaram com medo de usar esse tipo de roupa. E aí passam a escolher o modo como saem às ruas pelo medo, não pelo conforto, beleza ou estilo. Realmente, isso deixa a ditadura da moda no chinelo.

Doe Sangue Agora

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dica do Dia de Folga, da Lu Monte.

doe-sangueTem forma mais sustentável de dar a sua contribuição pro mundo do que doar sangue? Você pode salvar uma vida, sem perder nada menos do que uma hora da sua semana. Você não fica anêmico, não pega doença, e ainda ganha exames e lanchinho grátis! 

Existem algumas restrições, afinal, seu sangue vai correr nas veias de alguém já debilitado:
– você deve ter mais de 50 kg
– não correr risco de pegar Aids, hepatite, sífilis e doença de chagas (em alguns centros, eles já descartam quem teve mais de três parceiros sexuais nos últimos 12 meses)
–  não ser usuário de drogas (alguns centros descartam usuários de qualquer tipo de medicamento, menos anticoncepcionais)
– não estar grávida ou amamentando
– não ter tido hepatite depois dos 10 anos de idade.

O tipo de sangue mais desejado é o O-, por ser doador universal. Pra incentivar a doação entre jovens, a Cruz Vermelha Brasileira lançou um site, o Clube 25. Você pode inclusive pegar o selinho deles e divulgar a doação de sangue.

Aqui em Minas, os estoques estão 70% abaixo do normal. Cirurgias foram canceladas, e pacientes passam dias na fila de espera, por um coisa que todo mundo tem correndo nas veias!
Para agendar sua doação (eles fazem inclusive no sábado!) em Minas, agende pela internet, ou pelo telefone do Hemominas: 0800-310101.

Alimente o Free Kibble Kat

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foto: Gui Filipe Martins
foto: Gui Filipe Martins

Esse gato parece ter fome, não? Não é coincidência, todos os gatos abandonados são assim, famintos. Só a Bia, do Gatoca, conseguiu descrever a sensação pela qual deve passar um gato abandonado, frequentemente sujeito a acidentes e doenças:

 

“Ele, que ainda se mexia, continuou jogado num canto: três dias arrastando-se em desespero, três dias sem comida, três dias urinando sobre si mesmo.

Animais abandonados são uma questão de saúde pública. Transmitem doenças? Sim. São sujos? Sim. São um incômodo? Sim. E vão continuar assim se ninguém fizer algo por eles. Eles não vão se limpar, se curar, ou mesmo sumir sozinhos. Matar é a solução? Bom, então a gente devia exterminar a humanidade, que é a coisa mais incômoda e suja que já passou por esse planeta.

Ao invés disso, existem abrigos que recolhem, cuidam, e transforam a vida desses gatos, dando um lar pra eles. Sabe aquele gatinho fofo e mimado da sua tia? Pois é, ele vira um deles. E em vez de ser um estorvo na rua, passa a ser a alegria de alguém. Se você não quer adotar, tudo bem. Aqui tem um modo beeem mais simples de ajudar:

Entre no site do FreeKibbleKat e responda à pergunta de múltipla escolha (em inglês). Não precisa acertar. De qualquer maneira você vai estar doando 10 porções de ração a um gato abandonado, sem pagar nada por isso. É só isso. Só um clique, ou dois.

A autora do site, pasmem! É uma menina de 12 anos de idade. Mimi Ausland, da cidade de Bend, nos EUA decidiu ajudar os abrigos do seu estado com o site, e já chegou até a Flórida. As doações podem ser feitas graças a uma parceria com uma empresa de rações.

Se você prefere cachorros a gatos, também pode fazer uma doação no site dos caninos.

Ajudar um gatinho nos EUA soa muito imperialista pra você? Então pode começar por aqui mesmo. No Brasil existem diversos abrigos que cuidam de animais e precisam da sua ajuda:

Gatinhos de Toda Parte
Oito Vidas 
Pet MG 

Aqui em Minas mesmo, tem um abrigo de pessoas caridosas que cuidam de mais de 60 gatos e passam um sufoco todo mês pra pagar as contas. Eles divulgam suas ações pelo orkut. entre no perfil e na comunidade.

Seja Gentil

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profeta1O Profeta Gentileza nasceu em José Datrino em dezembro de 1961, após a tragédia com o Gran Circus Americano. Foi o anúncio, que se diz divino, que o fez largar a empresa, que trabalhava com o transporte de cargas no Rio de Janeiro. O terno foi trocado pela bata branca. As barbas cresceram longas, e a peregrinação começou. A primeira missão era consolar as famílias das vítimas da tragédia do circo de Niterói, a sua maioria crianças. A partir daí, o Profeta Gentileza, ou Jozze Agradecido passou a andar pela cidade carioca pregando não a salvação, mas simplesmente… gentileza.

Se sua história comoveu muitos, causou incompreensão em outros. Gentileza 44foi três vezes internado em sanatórios, onde levava choques. Nessas instituições, os internos costumavam se reunir em torno do Profeta, para ouví-lo pregar. Um médico teria dito: “Gentileza, você veio aqui para que nós te curemos ou para você nos curar?”

A mensagem de paz de Gentileza era para todos. Assim, ele usou o concreto para escrever seu livro, e pintou nas pilastras do viaduto do Cajú na entrada do Rio de Janeiro, 56 passagens de pregação. O projeto Rio com Gentileza restaurou essas obras, e elas foram tombadas em 2000. Um dos versos mais famosos do profeta é esse:

gentileza

 

 

 

Quem quiser o logo ao lado, pode pegar no site dedicado ao profeta.

imagens: Rio com Gentileza

Como lembrou a Mariana Congo, tem também a música da Marisa Monte para o Profeta Gentileza. E o clip é lindo: