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Pedofilia não é conto de fadas

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Passando rapidinho para recomendar uma entrevista excelente que está no blog Mulher 7×7. A repórter Letícia Sorg conversou com Margaux Fragoso, autora do livro “Tigre, Tigre”. Na obra ela conta sobre os 10 anos de abusos sexuais por parte de um pedófilo. Muitas das cenas são descritas com detalhes. Antes que alguém fique chocado, é bom ler o texto, que revela a forma madura e honesta com a qual Margaux lida com o assunto. Assim como Jaycee Dugard e Natascha Kampusch – outras mulheres abusadas durante longos anos por raptores – a autora lida com o tema de uma maneira muito mais saudável do que muitos que tentaram as transformar em vítimas.

Seus livros (no caso de Natascha e Margaux) são suas defesas. Neles, elas mostram que a relação entre a criança e o pedófilo (ou raptor) é muito mais profunda do que aquela história de “pobre menina abusada” versus “grande monstro mau” que vemos inclusive nos contos de fadas (chapeuzinho vermelho que o diga).

Eis um trecho que achei fantástico: “Quando mostramos compaixão, mesmo quando ela é o sentimento mais difícil, temos uma chance de atingir as defesas e as racionalizações dos pedófilos. A compaixão desarma a defesa, enquanto a culpa e o julgamento não conseguem entrar na mente daqueles que se recusam a admitir”.

Quem quiser ler na íntegra, vai lá: Margaux Fragoso sobre a pedofilia: “Não trate a criança como se ela estivesse arruinada”.

De plurais e singulares

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no Flickr por sAeroZar

Muita gente deve ter a acompanhado a polêmica em torno do livro do Programa Nacional do Livro Didático que afirma que o aluno pode falar “nóis vai”. A história deixou metade dos linguistas de cabelo em pé, e o tratamento da mídia sobre o tema tratou de arrepiar o restante dos teóricos. Pois bem, depois de muito ler em revistas, portais e blogs e dar pitaco em algumas discussões, decidi fazer meu próprio post.

Em primeiro lugar, vale a pena dar uma lida na nota divulgada pela ONG Ação Educativa, responsável pelo material. É uma instituição séria, que há anos se dedica ao tema da educação. Portanto, o que está no livro não foi inventado do dia para a noite, foi fruto de muito estudo e debate.

Em segundo lugar, vale a pena ler o capítulo inteiro do livro. Desde o primeiro parágrafo fica claro que a mensagem ali é de respeito pela norma culta da língua. Em nenhum momento se diz que é preconceituoso conjugar os verbos corretamente. Em nenhum momento se diz que o aluno deve abandonar o português ensinado nas escolas e passar a escrever do jeito que se fala no mercado. O que o livro difunde é justamente que existem vários modos de se expressar, e não podemos banir nenhum deles. Que também não temos o direito de menosprezar uma pessoa porque ela combina plural com singular. Que sequer temos o direito de tentar impor o nosso modo de falar a ela.

No incío, não consegui entender o porquê da polêmica. Afinal, eu sempre aprendi na escola que existem dois modos de falar: o padrão culto, que tenta manter a regra intacta, e a variante popular, que muda o tempo todo. Como duas forças atuando em direções contrárias, sem serem necessariamente boas ou más. Independente do que os livros didáticos dissessem, foi isso que meus professores procuraram me passar. Ninguém nunca ficou martelando na minha cabeça como é abominável falar “nós vai”. E até que eu não me saí tão mal desse ensino. Cometo minhas dissonâncias gramaticais de vez em quando (ainda mais considerando que edito 40 mil caracteres por dia), mas no final consigo até ganhar a vida com o meu português (e adoto a norma culta na escrita e na fala, mas não torço o nariz para o português coloquial quando ele é intencional).

Em um dos debates sobre o tema, eu usei o seguinte argumento (linguistas e historiadores de plantão, se eu estiver falando asneira, me corrijam): quem somos nós para exigir o português correto, se a nossa própria língua provém de uma variação popular de outras? O português não passaria de uma versão “errada” do latim? Então, que preciosismo é esse? Será que daqui a séculos algumas regras não serão modificadas, e nossos teóricos não estarão se arrepiando quando alguém insistir em fazer conjulgar o sujeito e o verbo?

E até me arrisco em algumas reflexões: 1. será que não existe um fundo de preconceito social nessa questão? Por que abominamos tanto a fala fora da norma culta? 2. Será que não está aí falando, mais uma vez, o nosso medo de mudar? A eterna tentativa de permanecer no confortável, no conhecido?

Para quem quiser ler mais sobre o assunto, eu recomendo:

Nota dos responsáveis pelo material

Íntegra do capítulo em questão

MEC descarta regra do “jeito certo” de falar desde 1997

Artigo da Eliane Brum

Artigo da Lu Monte

Ps: recomendo fortemente o texto da Eliane Brum. E me dei a liberdade de extrair um trechinho que adiciona mais à discussão:

“Acreditar que a linguagem popular (ou “variante popular” ou “norma popular”) é dizer coisas toscas como “os livro” pode significar subestimar a riqueza e a diversidade de expressão do povo. Sempre lamentei que as pessoas que me contavam suas histórias não tivessem tido acesso à escola, devido à abissal desigualdade do Brasil, para que não precisassem de mim para transformar em escrita as belas construções, os achados de linguagem que saíam de sua boca. Nada a ver com “os livro”. Posso estar errada, mas me arrisco a afirmar que o povo brasileiro é muito melhor do que isso.”

É essa mulher que sabe das coisas, gente. Eu só estou tentando juntar minhas migalhas.

O Estado ideal

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Não estamos mais na guerra fria, mas a questão sobre qual modelo econômico, político e religioso é o melhor para a sociedade nunca deixou de existir. Economia aberta ou fechada? Estado mínimo ou social? Protecionismo ou livre comércio? Bíblia, Torá, Corão ou O Capital?

Deixo aqui as palavras de Pietro Ubaldi como semente de reflexão:

“A pedra de toque de uma religião, filosofia ou sistema político é determinada pela quantidade de luz que tiverem sabido fixar na alma humana: reside na medida em que tenham conseguido tornar o homem melhor”

Pietro Ubaldi – A Grande Síntese, pág. 466.

A dor universal

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cc by tanakawho on Flickr
lama faz bem

Mais de seis bilhões de habitantes, centenas de dialetos, costumes, dezenas de etnias. Mas ainda assim existe uma coisa que liga você, eu e qualquer um com um polegar opositor: a dor. Querendo ou não, um dia todo ser humano sofre, sente dor, medo, desespero. E cada um lida com isso à sua própria maneira.

Tem gente que grita. Grita e xinga a todos. Mas se você ficar quieto o suficiente pra prestar atenção, vai ver que essa pessoa não está gritando com os outros, está gritando com ela mesma. Quando ela diz: “você não presta!” é a dor lá dentro falando. É o medo que ela está colocando pra fora, o medo enorme de que na verdade seja ela que não preste. Isso eu aprendi com a vida. E comigo mesma.

Um dos maiores aprendizados que se pode ter na vida é transformar essa dor enorme em algo bom. É a metáfora que os budistas admiram na flor de lótus: ela nasce da lama mais fétida, mas que por isso é a mais fértil. Se você colher a flor e colocar num vaso com água e açúcar, ela murcha.

Acabei de ler uma história incrível. É sobre a australiana Jacqueline Pascarl. Ela já foi princesa da Malásia e transformou a dor pela separação e o sofrimento dos filhos em aprendizado. Acho que aí está outra coisa universal: a ligação entre mãe e filho. Vale muito a pena ler a história, escrita por Kátia Mello no blog Mulher 7 x7 (que aliás é incrível) e os dois livros que a Jacqueline lançou.

Fica a recomendação.

Da medicina e o que se põe pra dentro

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A ideia do blog não era ser tão pessoal, mas não tem como começar esse texto sem contar alguns fatos da minha vida. Então senta que lá vem história.

Há seis anos, quando estava viajando com duas amigas pelo nordeste, comecei a sentir uma dor de cabeça. Mas não uma dor qualquer, uma dor muito forte, que me impedia até de andar normalmente e sequer conversar. Com a dor vieram náuseas e vômitos e eu entrei em desespero. Era praticamente a primeira viagem que fazia sozinha e estava numa cidade totalmente desconhecida. Achei que fosse morrer. Fomos até um hospital, tomei analgésicos intravenais e chegamos à conclusão que tudo não passava de uma intoxicação alimentar.

Depois disso esqueci o assunto até que, no início de 2006, tive outro episódio semelhante. Estava no bar, com amigos. Fui pra casa, tomei analgésicos, dormi e a dor passou. Mas no mês seguinte senti a mesma coisa. E no outro, e no outro e assim tem sido há quatro anos.

Logo da primeira vez que fui no médico, uma neurologista, fui diagnosticada com exaqueca. Desde então já consultei com cinco médicos diferentes, fiz tomografias, eletroencefalogramas, sessões de acupuntura, tomei remédios como antidepressivos, controladores de pressão, antilabirínticos, anticonvulsivos e até uma injeção na base do crânio. Atualmente, as crises são quinzenais.

Colocando pra dentro

Eu devo ter ido a cerca de 20 consultas e, em NENHUMA delas, o profissional da saúde tratou sobre a minha alimentação. Todos os tratamentos (exceto a acumpultura, que foi iniciativa minha) eram feitos a base de remédios. As consultas seguiam um padrão:
“e então, como estão as dores?”
“continuam”
“então vou mudar seu remédio”.

De fato, a fé nos remédios é tão grande, que um médico chegou a dizer pra mim: “bom, se você não tem melhora com esse medicamento, então seu caso não tem solução”.

Quando a questão da alimentação era tratada, me perguntavam se eu sentia que determinado alimento desencadeava as crises. Mas senti que nunca fui tratada como uma pessoa, e sim como um laboratório de testes. Se esse medicamento não funciona, tentaremos com aquele, ou uma dose maior. Nunca procuraram saber como meu intestino funciona, e nem sequer o que eu acho que desencadeia as crises.

Alexandre Feldman diz: você é o que você come

Mudando tudo

Já tinha desistido de tratar minha enxaqueca, e passei simplesmente a conviver com o problema e me entregar à dor nos momentos de crise. Até que um dia minha mãe apareceu com um livro chamado: “Enxaqueca – Finalmente uma Saída“, de Alexandre Feldman. A princípio não dei muita importância, pois me remetia à auto-ajuda ou àqueles charlatões que oferecem fórmulas milagrosas. Mas um dia em que tive uma crise particularmente forte, comecei a ler.

E devorei o livro em dois dias.

O autor fala exatamente o que eu penso. Será que a medicina não santifica os medicamentos? Os remédios são realmente a única saída, a ponto de se dizer que se eles não funcionam, não há mais cura? A alimentação e o funcionamento do corpo devem ser ignorados ou mesmo deixados em segundo plano durante o tratamento? Não seria a alimentação o fator principal da saúde humana?

Me lembro sempre de um comercial nessas horas. A Suzana Vieira chega em casa e diz: “minha vida anda tão corrida, que meu remédio para dor de cabeça não me acompanha mais. Por isso eu mudei para tal remédio, mais eficaz”. Como assim??? Dor costuma ser uma sinal de que algo está errado!

O problema é que engolir uma pílula e esquecer a dor é muito mais fácil do que mudar todos os seus hábitos, principalmente os alimentares. Alexandre Feldman faz a mesma constatação, e propõe uma mudança radical: cortar todos os alimentos que conhecidamente aumentam as taxas de hormônios que disparam a enxaqueca.

E isso é bem complicado, dado que um dos maiores vilões já é bem conhecido de todos: o açúcar. No final das contas, o açúcar aumenta a atividade cerebral (quem já engoliu um balde de balas quando era criança sabe bem disso). Pra quem tem enxaqueca, isso é uma receita de crise, que nada mais é do que hiperatividade cerebral. O problema é que não basta cortar o açúcar, já que os carboidratos que ingerimos também se transformam nessa substância, em velocidades diferentes, dependendo do tipo de alimento.

A atuação dos hormônios é bem complexa, e no livro o autor vai até a pré-história para explicar porque parece que estão arrancando meu cérebro com um fórceps a cada 15 dias. Mas o final a proposta é essa: passar a prestar atenção em você de verdade. Pensar que glutamato monossódico e remédios talvez realmente não sejam a única ou melhor escolha. E, com dor ou sem dor, tentar pular fora dessa ciranda maluca na qual a medicina nos meteu.

Já comecei a mudar o que eu como, e espero em breve ter boas notícias.

Como comprar um bom livro por R$ 3,80

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xgfilmes.blogspot.com cc
xgfilmes.blogspot.com cc

Na Saraiva, uma famosa livraria que vende pela internet, o livro “A Casa dos Budas Ditosos” de João Ubaldo Ribeiro está a R$26,40, com desconto no preço original de R$ 33,90.

Hoje, o mesmo livro chegou aqui em casa por R$ 3,80. Como? Simples: eu não comprei. Troquei.

Lembra daquele site que eu havia dado a dica, o Trocando Livros? Pois é. Há algum tempo eu disponibilizei vários livros meus lá. Inscrevi todos só digitando o código ISBN que tem em vários deles. Depois de um tempo, alguém se interessou por um dos itens da minha lista, a Constituição Federal. Mandei pelo correio para Florianópolis e só paguei R$ 3,80 pelo envio, já que era Registro Módico, por ser um livro.

Quando confirmei no site que havia enviado, com o código da postagem, recebi um crédito, para escolher entre os livros do site. Escolhi esse do João Ubaldo Ribeiro, que eu queria ler faz tempo. Uma mocinha de São Paulo enviou ele pelo correio pra mim, e ele chegou em ótimo estado.

O melhor disso tudo é que o livro não foi desperdiçado. Ele podia estar numa estante, sem ninguém pra ler. Mas graças à iniciativa de alguém, viajou pelo País e foi parar nas mãos de novos leitores.

Ainda não li o livro, mas já me disseram que é realmente bom. Fernanda Torres até protagonizou uma peça de teatro sobre essa história. Faz parte da coleção Plenos Pecados, que reuniu escritores bambas para escrever sobre temas como Ira, Luxúria, Preguiça, etc.

Dessa coleção, já li a Ira – Truco, xadrez e outras guerras, do José Roberto Torero. É fantástico.

Não compre, troque!

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dica de: Mariana Congo

sem-titulo-1Se você for pensar bem, livros são objetos usáveis apenas uma vez (caso você não seja um colecionador, e seus exemplares sejam raros). Depois que você, o irmão, o pai, a mãe, a tia, o vovô e os amigos próximos já o leram, não há muito mais o que fazer com eles, a não ser deixá-los na estante, não é mesmo?

Existem também aquelas pessoas (como meu pai) que esquecem a história do livro 30 minutos depois de o ter lido, e gostam de estar sempre relembrando. Bom se você se encaixar no outro caso, aquele de pessoas que estão sempre ávidas por novos livros, existe um meio sustentável de saciar sua sede por leitura.

Trata-se do site Trocando Livros. Lá você se cadastra, e coloca os livros que você quer trocar na lista. Quando alguém quiser o seu livro, você envia pelo correio, e então ganha 1 crédito, pra pedir o livro que você quiser! Você também pode comprar créditos, a R$14,90 cada. E o site tem mais de 12 mil títulos pra você escolher!

Não é bacana? Assim a gente contribui para a circulação de material, sem que novas árvores tenham que ser derrubadas, para que alguém possa ler um livro novo!  E tem mais: existe na internet uma campanha para que seja cobrada uma taxa mais barata para o envio de livros.