educação

Protesto na Paulista: quando bolivianos, caras-pintadas e surdos se encontram na avenida

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Acabando de voltar da avenida Paulista no coração de São Paulo, onde me deparei com uma cena surreal.

19h30:

1. Um grupo de mais de 300 bolivianos protesta em frente ao consulado da Bolívia. Eles pedem justiça pela morte cruel de um menino de cinco anos durante um assalto. Em espanhol eles pedem a saída do cônsul e gritam “Justicia paraguaya!” (foi o que eu entendi). A maioria é de homens jovens e há algumas mães que carregam bebês no colo. Umas três bandeiras da Bolívia são agitadas em meio às pessoas. Leia o resto deste post »

A patrulha gramatical ou: da dor de não saber

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Como que monta, mãe?
Como que monta, mãe?

As pessoas cometem erros gramaticais incríveis na internet, eu sei. Acredite, eu leio, escrevo e reviso milhares de caracteres por dia e não tem nada que faça meu estômago revirar mais fácil do que um “fássio”. Mas antes de sair dando indiretas no Facebook ou dar print screen no erro dos outros, eu tento parar e pensar sobre algumas coisas:

A primeira questão é que eu sou uma pessoa muito privilegiada nesse país. Eu tive acesso a uma boa escola, tenho boa capacidade de aprendizado, tenho pais que me incentivaram o hábito de leitura desde cedo e tive acesso ao ensino superior. Além disso, sou jornalista, tenho a língua portuguesa como objeto de trabalho, o que me dá o privilégio de saber mais do que a média quando o assunto é coesão textual ou regras gramaticais.

Mas a maioria das pessoas não teve a mesma vida que eu. Muita gente não teve oportunidade de estudar, porque tinha um trabalho integral aos 12 anos ou porque a escola era muito longe. Outros até frequentaram bons colégios, mas têm problemas de aprendizado. Outros ainda acabaram focando totalmente em outras áreas, por causa da dificuldade com o português e com as matérias de humanas.

Então quando a gente aponta o dedo e critica uma pessoa que não sabe escrever de modo correto, nós estamos fazendo isso de uma posição muito superior a ela, e isso, na minha opinião, é extremamente cruel. É como se você visse um cara sem um braço na rua e começasse a rir porque ele não consegue fechar o zíper do casaco. E isso vale mesmo que seja uma indireta ou um comentário sem alvo definido.

Eu já conheci pessoas maravilhosas que têm tanta habilidade com textos quanto eu tenho com uma britadeira. E o que mais me dói é que isso é extremamente embaraçoso para elas. Minha avozinha linda, por exemplo, nunca respondeu nenhuma das cartas que eu mandei, porque ela morre de vergonha de ser semi-analfabeta. Mal sabe ela que eu ia amar até se ela me mandasse um coração desenhado num guardanapo. O que são um monte de rabiscos, perto de todas as rezas que ela já fez para mim na vida?

Essas pessoas sempre fizeram parte da nossa vida e tentaram esconder o fato de não dominarem a língua como nós (sem duplo sentido, please). Mas agora a geração mais nova delas ganhou um computador, no qual se pode perguntar e errar sem que ninguém veja e julgue. Essas pessoas podem entrar no Google no quarto delas e aprender, clique após clique, o que seus pais não tinham coragem de perguntar. Elas provavelmente são a primeira geração da família que pode opinar entre as pessoas “relevantes”, seja contra a corrupção no Senado ou seja a favor do corte de cabelo do Justin Bieber.

A gente pode até criticar quem trocou “s” com “c”. Mas temos que saber que essa cutucada é feita de um plano muito privilegiado em relação a quem recebe, e pode acabar se transformando num soco na barriga. E de estômago revirado aqui, basta o meu.

O governo não é seu inimigo

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Não sou governista, petista ou sequer tenho partido político. Mas diante do que tem circulado na internet nesses últimos dias, preciso  sair em defesa do MEC, o Ministério da Educação.

Eis o que temos visto pipocar jornais, portais e em blogs dos mais variados assuntos:

1. O livro do MEC incentiva os alunos a falar “nóis vai”
2. O governo vai distribuir kit gay nas escolas
3. A professora Amanda Gurgel deu show com o discurso sobre o problema dos professores

Muita calma nessa hora.

Acho que a gente primeiro tem que ter em mente que o governo não é comida não é o inimigo do povo que está aqui para oprimir todo mundo. Primeiro é preciso se informar e analisar questões complexas como essas com calma, antes de sair apontando o dedo por aí. Sobre os temas: no assunto nº 1 eu já disse o que penso aqui.

Kit anti-homofobia

No assunto nº 2 eu acredito que é preciso pensar antes de quem parte essa afirmação (uma pergunta que a gente sempre se coloca no jornalismo). Esse assunto começou a ganhar corpo com a polêmica do Jair Bolsonaro, um parlamentar que assume abertamente uma postura anti-gay (não conheço outro nome pra isso que  não homofobia). Depois que ele ganhou todos os holofotes por ter xingado a Preta Gil no CQC, aproveitou para empurrar essa questão no balaio das polêmicas. E então blogs e deputados evangélicos começaram a divulgar que o MEC está distribuindo uma cartilha nas escolas que ensina as crianças a serem homossexuais (não tenho nada contra evangélicos, quero deixar claro também).

Existe um material anti-homofobia em fase de produção, que seria distribuído nas escolas no segundo semestre. Mas diante de todo o auê o governo (leia-se Dilma) suspendeu tudo.

Eis o vídeo que constaria no material:

Acho tranquilo. Não há beijo gay (que inclusive já aconteceu em uma novela), não há sexo explícito. Há duas meninas que querem ficar juntas e debatem sobre como agir quando têm seu relacionamento exposto para toda a escola.

As pessoas começaram a tratar do tema como se houvesse um complô do governo para transformar todos os cidadãos em homossexuais. Mas é preciso considerar que existe um problema grave de homofobia, discriminação e violência nas escolas em relação a quem gosta de alguém do mesmo sexo. E também que é papel do governo tentar reverter essa situação e proteger quem está sendo oprimido.

O que o MEC tem dito é que: 1. o material que circula pelo Congresso não é produzido nem distribuído pelo ministério; 2. o material sobre homossexualidade ainda está em análise; 3. não se trata de estimular o comportamento homoerótico, mas sim de tentar disseminar o respeito à diversidade sexual e diminuir o preconceito e a violência contra os gays. O governo, é claro, sempre vai defender a sua política, mas no mínimo é uma parte da informação que precisa ser divulgada.

Amanda Gurgel

No assunto nº 3… acho que Amanda Gurgel tem razão em muito do que fala. Vale a pena repetir o vídeo dela aqui em baixo.

Não tenho tanto conhecimento sobre a atual situação dos professores para opinar sobre o assunto, mas isso não significa que a gente possa juntar tudo no mesmo balaio e misturar a crítica dela do posto de professora com boatos que estão se espalhando por aí.

Por trás da difusão desses três assuntos eu vejo algo que me preocupa: a tendência de colocar a culpa de tudo no governo. Não me levem a mal, existem críticas bem pertinentes sendo feitas e creio que temos sim que estar vigilantes sobre o que vem dessa instituição tão poderosa. Mas quero destacar aqui aquelas críticas que começam a correr na boca de todos e acabam virando clichê. O discurso fácil de que o governo não investe em educação, nem em saúde e que “o Brasil está do jeito que está é por culpa desse governo sem vergonha”.

Calma aí. Em primeiro lugar, quem colocou o governo lá fomos nós. Em última análise, nós somos o patrão do governo, ele trabalha (ou deve trabalhar) para o povo, não contra o povo. Passamos muito tempo numa ditadura e lutamos muito pela democracia para agora cair nessa conversa de governo que manda e desmanda.

As coisas que o MEC faz, que o MEC distriubui, que o MEC autoriza, como muitas outras políticas públicas, não são adotadas para satisfazer os caprichos de um governante. São pensadas, analisadas, debatidas em equipe, seguem determinadas correntes de pensamento que são mais ou menos aceitas na academia. Não é algo que cai do céu, ou ideias que o Fernando Haddad acorda com vontade de implantar. Por isso, é preciso mais cuidado no momento de fazer críticas como essas.

De plurais e singulares

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no Flickr por sAeroZar

Muita gente deve ter a acompanhado a polêmica em torno do livro do Programa Nacional do Livro Didático que afirma que o aluno pode falar “nóis vai”. A história deixou metade dos linguistas de cabelo em pé, e o tratamento da mídia sobre o tema tratou de arrepiar o restante dos teóricos. Pois bem, depois de muito ler em revistas, portais e blogs e dar pitaco em algumas discussões, decidi fazer meu próprio post.

Em primeiro lugar, vale a pena dar uma lida na nota divulgada pela ONG Ação Educativa, responsável pelo material. É uma instituição séria, que há anos se dedica ao tema da educação. Portanto, o que está no livro não foi inventado do dia para a noite, foi fruto de muito estudo e debate.

Em segundo lugar, vale a pena ler o capítulo inteiro do livro. Desde o primeiro parágrafo fica claro que a mensagem ali é de respeito pela norma culta da língua. Em nenhum momento se diz que é preconceituoso conjugar os verbos corretamente. Em nenhum momento se diz que o aluno deve abandonar o português ensinado nas escolas e passar a escrever do jeito que se fala no mercado. O que o livro difunde é justamente que existem vários modos de se expressar, e não podemos banir nenhum deles. Que também não temos o direito de menosprezar uma pessoa porque ela combina plural com singular. Que sequer temos o direito de tentar impor o nosso modo de falar a ela.

No incío, não consegui entender o porquê da polêmica. Afinal, eu sempre aprendi na escola que existem dois modos de falar: o padrão culto, que tenta manter a regra intacta, e a variante popular, que muda o tempo todo. Como duas forças atuando em direções contrárias, sem serem necessariamente boas ou más. Independente do que os livros didáticos dissessem, foi isso que meus professores procuraram me passar. Ninguém nunca ficou martelando na minha cabeça como é abominável falar “nós vai”. E até que eu não me saí tão mal desse ensino. Cometo minhas dissonâncias gramaticais de vez em quando (ainda mais considerando que edito 40 mil caracteres por dia), mas no final consigo até ganhar a vida com o meu português (e adoto a norma culta na escrita e na fala, mas não torço o nariz para o português coloquial quando ele é intencional).

Em um dos debates sobre o tema, eu usei o seguinte argumento (linguistas e historiadores de plantão, se eu estiver falando asneira, me corrijam): quem somos nós para exigir o português correto, se a nossa própria língua provém de uma variação popular de outras? O português não passaria de uma versão “errada” do latim? Então, que preciosismo é esse? Será que daqui a séculos algumas regras não serão modificadas, e nossos teóricos não estarão se arrepiando quando alguém insistir em fazer conjulgar o sujeito e o verbo?

E até me arrisco em algumas reflexões: 1. será que não existe um fundo de preconceito social nessa questão? Por que abominamos tanto a fala fora da norma culta? 2. Será que não está aí falando, mais uma vez, o nosso medo de mudar? A eterna tentativa de permanecer no confortável, no conhecido?

Para quem quiser ler mais sobre o assunto, eu recomendo:

Nota dos responsáveis pelo material

Íntegra do capítulo em questão

MEC descarta regra do “jeito certo” de falar desde 1997

Artigo da Eliane Brum

Artigo da Lu Monte

Ps: recomendo fortemente o texto da Eliane Brum. E me dei a liberdade de extrair um trechinho que adiciona mais à discussão:

“Acreditar que a linguagem popular (ou “variante popular” ou “norma popular”) é dizer coisas toscas como “os livro” pode significar subestimar a riqueza e a diversidade de expressão do povo. Sempre lamentei que as pessoas que me contavam suas histórias não tivessem tido acesso à escola, devido à abissal desigualdade do Brasil, para que não precisassem de mim para transformar em escrita as belas construções, os achados de linguagem que saíam de sua boca. Nada a ver com “os livro”. Posso estar errada, mas me arrisco a afirmar que o povo brasileiro é muito melhor do que isso.”

É essa mulher que sabe das coisas, gente. Eu só estou tentando juntar minhas migalhas.

Multa moral

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Vi na revista Vida Simples (que chegou na minha casa esse mês não sei por quê) essa iniciativa bacana.

Lá no bairro Vila Madalena, em São Paulo, o pessoal criou um blog pra mostrar o que está errado e o que precisa melhorar na região, o Árvore da Vila. Em um dos primeiros posts eles criaram a chamada “Multa Moral”.

É uma espécie de talão de multas do cidadão. Toda vez que você vâ alguém estacionar em local proibido, desperdiçar água lavando calçadas e outros atentados à cidadania, pode entregar uma dessas pro sujeito.

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