Política mundial

Pra não dizer que eu não falei das flores

Postado em Atualizado em

Linda a sequência de fotos captada pelos fotógrafos Majdi Mohammed, da Associated Press, e Mohamad Torokman, da Reuters.

crédito: Mohamad Torokman/Reuters

Dada a profusão de restos de granadas de gás lacrimogênio presente na palestina, os moradores de uma cidade chamada Bilin, na Cisjordânia, resolveram plantar flores dentro das embalagens das granadas, num estilo aprimorado daquele pessoal que entregava flores para os soldados nos anos 60. A galeria completa está na página do G1.

Leia o resto deste post »

Para quê Oscar?

Postado em Atualizado em

“- Por que eu deveria ir ao Oscar? O que é o Oscar, o que querem que aconteça lá? Eu já fui, já vi, não fiquei muito satisfeito, e aí está”.

É assim que o ator argentino Ricardo Darín começa a sua entrevista numa espécie de talk show do seu país, respondendo às críticas por não ter . Eu já o admirava por suas interpretações em Um Conto Chinês, A Dançarina e o Ladrão e Elefante Branco, mas o posicionamento do artista sobre vários assuntos me faz admirá-lo ainda mais. Alguns atores simplesmente são muito mais que talento e rostinho bonito. Têm um conteúdo enorme.

Leia o resto deste post »

O abismo é maior do que parece

Postado em Atualizado em

Calma, não estou falando de depressão. Mas a história não é muito feliz.

Topei com um vídeo que mostra de maneira bem simples a desigualdade econômica nos EUA. Ele mostra como as pessoas acham que é a distribuição de renda no país, como elas acham que deveria ser e como – e isso é mais chocante – de fato é.

. Leia o resto deste post »

Racismo na prática

Postado em Atualizado em

Alguém ainda acredita que não existe mais racismo?
Então olha esse vídeo que uma TV americana fez:

Traduzindo para o português: eles esconderam uma câmera num parque. Aí colocaram um ator branco quebrando a corrente de uma bicicleta. Quando as pessoas perguntavam, o cara assumia que a bicicleta não era dele.
Aí trocaram por um ator negro, da mesma idade, com o mesmo tipo de roupa, na mesma situação. As reações com um e outro são bem diferentes.
O bacana é refletir, como o próprio nome do programa diz: como você agiria se estivesse passando na hora?

Como eu descobri meu racismo

Postado em Atualizado em

A gente gosta de dizer que o Brasil não é racista. Enchemos a boca para falar que somos o país da diversidade racial, que todo mundo convive bem e que aqui a cultura negra é festejada, olha que alegria! Só que não. Como já dizia George Orwell, no clássico A Revolução dos Bichos: somos todos iguais, mas uns são mais iguais que os outros.

Todos temos direito à proteção, mas alguns acabam mais atingidos. Todos temos direito à educação, mas alguns ficam de fora. Todos temos direito aos bens materiais, só que alguns terão que esperar mais um tempinho, que tem gente na frente. Então paremos com essa história de país igualitário e olhemos o Brasil pelo que ele é: um país preconceituoso, que insiste em manter uma desigualdade gritante e ainda por cima profundamente ligada à aparência das pessoas.

O que é um pouco mais difícil de engolir é o seguinte: se o Brasil é um país racista, somos todos racistas. Eu, você, o seu professor favorito, avó, filho, namorado, todos. Eu sei que você já abriu a boca para dizer que “nãão, eu não, imagina!”, mas acompanhe meu pensamento. Existe um “pré-conceito” muito forte na nossa sociedade, que é a ideia de associar a pobreza, a criminalidade e a falta de ensino às pessoas negras. É por isso que o mulato é o primeiro suspeito da polícia, que o “moreninho” de chinelo é confundido com um pedinte e que tem gente que não pode participar de um happy hour em paz sem ser confundido com o garçom.

E eu, toda linda e cheirosa, que sempre acompanhei os movimentos sociais, que sempre pensei diferente e nunca hesitei em apontar o preconceito e o machismo alheio, eu achei que estava acima disso. Eu achei que ler e pensar a respeito do racismo e exercitar minha aceitação ao diferente me faria imune a esse pensamento de Casa-grande e Senzala, e que eu realmente percebia que todos eram iguais. Até o dia em que eu dei de cara com a parede.

Tô branco agora, moça?
Tô branco agora, moça?

Foi numa cidadezinha de Portugal, chamada Braga. Fui visitar meu irmão que estava morando e estudando lá. Ele ocupava um dos quartos de um prédio cheio de estudantes de todas as partes do mundo. Estávamos eu, ele e alguns brasileiros na porta do prédio. A essa altura eu já estava zonza com o tanto que tudo era diferente naquele continente. Eis que se aproximam de nós duas moças. Uma delas, que chegava sorridente à frente, devia ter uns 20 anos, tinha cabelos loiros e cacheados, olhos azuis e cara de anjinho. A outra, que vinha logo atrás, era mais reservada, devia ter por volta de 30 e poucos, era negra, de olhos e cabelos castanho-escuros. Elas chegaram perto do nosso grupo e, vendo que eu era nova na cidade, a menina da frente se apresentou num inglês muito difícil: “Oi, eu sou fulana. Esta é ciclana”. Sorri para as duas e me apresentei também. Foi só quando meu irmão comentou que elas eram estudantes da faculdade dele vindas da França e de Cabo-Verde é que eu despertei da realidade paralela na qual eu tinha entrado: eu estava assumindo que era uma menina e sua empregada!

Quando eu percebi que eu tinha presumido que uma estudante de Cabo-Verde era a empregada de alguém, só porque ela era negra, me deu vontade de cavar um buraco ali mesmo e enfiar minha cabeça dentro. Ainda bem que eu tive a decência de não abrir a minha boca e ninguém percebeu. Eu não creio que eu as trataria de modo diferente se fossem uma faxineira e uma patroa, mas eu fiquei assustada com a facilidade com que eu entrei nesse jogo de “ele é preto, então é pobre”. Então eu lembrei que já tinha pensado assim muitas e muitas vezes, só que nem sempre o choque entre realidade e imaginação era tão grande como foi naquele outro país.

Desde então eu fiquei pensando muito em como escapar do meu próprio preconceito. Ultimamente tenho tentado usar a imaginação para inverter as cores das pessoas nas ruas. “O que eu pensaria se esse cara fosse branco, e não negro? Qual seria a minha visão sobre essa senhora, se ao invés de branca, ela fosse negra?” Funciona em parte, mas ainda preciso de alguma prática. Enquanto ainda não consegui tirar o racismo da minha cabeça, o melhor é me esforçar duplamente para tratar todo mundo igual. E gastar mais uns cinco minutos checando se o garçom é mesmo o garçom.

.

.

Gostou do post? Leia mais:
Senso de injustiça é o básico
Um bilhão se ergue em São Paulo
Os Guarani-Caiovás e o ativismo de sofá

[nrelate-related]

Onde está o seu lixo?

Postado em

Sabe onde vai parar aquela tampinha, aquele lixo inocente que as pessoas jogam na rua?

Ela é carregada por milhares de quilômetros, através de esgotos, rios, mares, oceanos, boiando nas correntes marítimas. E aí, no meio do caminho entre o continente americano e a Ásia, ela para nas praias de uma ilha. A ilha Midway.

E eis o que acontece quando os pássaros da ilha de Midway se encontram com a montanha de lixo que produzimos todos os dias:

O fotógrafo Chris Jordan pretende lançar este ano um documentário sobre a ilha. O vídeo acima é o trailler.

Acho que a gente precisa refletir não só sobre o lixo que a gente joga ou não na rua. Mas sobre o fato de que todo o lixo que produzimos vai para algum lugar. Principalmente o plástico. Dá para imaginar que todo o plástico já produzido e usado no mundo está intacto em algum lugar? (afinal, o material leva mais de um centena de anos para se decompor, mais tempo do que o que passou desde a sua invenção). Aquela tampinha da primeira coca-cola que você tomou, onde está? E aquele celular tijolão que você já teve? Tem componentes de plástico, onde estarão? E aquela boneca ou carrinho, que era o seu favorito? Está num lixão? Flutuando num oceano? Numa ilha?

Via Blog do Tas

.

Gostou do post? Leia mais:
Seja materialista
A praia de plástico
A era da estupidez

Um bilhão se ergue em São Paulo

Postado em Atualizado em

Uma em cada três mulheres será espancada ou estuprada durante a sua vida. Considerando que o mundo tem mais de 3 bilhões de pessoas do sexo feminino, isso dá pelo menos 1 bilhão de mulheres feridas.

.

Um bilhão de mulheres violadas é uma atrocidade.

Mas um bilhão de mulheres dançando é uma revolução.

.

.

Nesse sábado, 16 de fevereiro, mulheres e homens de São Paulo se erguerão pelo fim da violência contra a mulher.

E você?

.

Página do evento no Facebook
Site oficial
Evento em Recife
Evento em Curitiba

O que realmente é a meditação?

Postado em Atualizado em

Muita gente associa a meditação ao tédio, ao gesto ficar horas sentado simplesmente não pensando ou sentindo nada. Outra parte das pessoas associa essa prática a um estágio de iluminação, que só pode ser atingido por pessoas que passam a vida em mosteiros tibetanos ou que seguem à risca a religião busdista.

Mas não é tão complicado assim. Com vocês, o monge Mingyur Rinpoche, que foi quem melhor conseguiu explicar o que realmente é a meditação (além de ter um sotaque fofo e umas expressões divertidíssimas).

O vídeo abaixo é em inglês (com sotaque tibetano), então eu tomei a liberdade de traduzir os melhores trechos:

What meditation really is – Mingyur Rinpoche from WhatMeditationReallyIs on Vimeo.

Nós costumamos dizer que a nossa mente é como um macaco. Algo que eu chamo de mente-macaco-maluco (crazy monkey mind é a expressão que ele usa, bem melhor). E normalmente essa mente-macaco é quem manda na nossa vida. Tudo o que você faz e tudo o que você aprende começa na mente. A mente lidera tudo.

E em nossas vidas, nós sabemos como conduzir as coisas, como gerenciar tudo, mas não sabemos como conduzir nossas mentes, como treinar nossas mentes. Não sabemos como aprender sobre as nossas mentes, como nos familiarizar com as nossas mentes. Então a meditação é aprendeer a lidar com a mente, conhecer a sua natureza. E também a guiar a mente e treiná-la.

Eu dou um exemplo. (Aí ele começa com os gestos e caras, vou tentar reproduzir) Temos a mente-macaco, que fica falando na nossa cabeça. E normalmente o que você faz? Duas coisas. A primeira é dizer “sim-senhor”, e a mente-macaco continua com o seu falatório e acaba por te deixar louco. A segunda coisa que fazemos é odiar esse falatório, e dizer: “cala a boca, me deixe em paz!”. E quando você luta com a mente-macaco ela começa a falar mais alto e a ficar mais forte.

 Em nossas vidas, nós sabemos como gerenciar
tudo, mas não sabemos como conduzir nossas
mentes, como treinar nossas mentes”

Algumas pessoas pensam que a meditação é se sentar, não pensar em nada e bloquear todos os pensamentos e emoções. Outras pessoas pensam que a meditação é se elevar, pensar em paz. Não é assim.

Então o que é a meditação? Não é dizer “vai embora” para a sua mente, ou seja, não é lutar, e também não é dizer “sim senhor”. Faça amizade com ela. Como fazer amizade? Para se fazer amigos você precisa ter algo em comum. Algo que você goste e o seu amigo goste também. E o que a mente-macaco adora? Trabalho. Resolver problemas, o tempo todo. A mente-macaco é muito ativa, e sem trabalho ela semplesmente vai inventar algo para fazer. Então o que você deve fazer? Dar um trabalho para a mente-macaco. E isso é meditação. Você está guiando e treinando a sua mente. Assim a sua mente se torna calma, pacífica e maleável.

Se você dá um trabalho para a mente-macaco é uma situação em que todos saem ganhando. A mente-macaco fica feliz, porque conseguiu um trabalho, e você fica feliz, porque se torna o chefe. A mente-macaco passa a ser sua funcionária e você o empregador. E assim você ser torna livre, você se liberta.”

Quem quiser saber mais sobre meditação, sugiro esses links:

Em inglês:
Portal dos seguidores do Mingyur Rinpoche, com vários vídeos
O que a meditação realmente é

Em português:
Lama Padma Samten ensina como começar a meditar

Boa prática!

Um comentário sobre a Grécia

Postado em Atualizado em

Depois que eu publiquei aquele texto enorme com as minhas impressões sobre a crise na Grécia, recebi um comentário muito interessante. Trata-se de duas cartas, uma de um alemão e uma de um grego, sobre a União Europeia e as dificuldades financeiras. As palavras falam por si só:

Leia até o fim esta resposta de um grego a uma carta enviada para a revista Stern escrita por um alemão que se sente ofendido com o “estilo de vida” grego. Traduzida por Sérgio Ribeiro, via Aventar.

“Há algum tempo, foi publicada , na revista, uma “carta aberta” de um cidadão alemão, Walter Wuelleenweber, dirigida a “caros gregos”, com um título e sub-título:

Depois da Alemanha ter tido de salvar os bancos, agora tem de salvar também a Grécia os gregos, que primeiros fizeram alquimias com o euro, agora, em vez de fazerem economias, fazem greves

Caros gregos, Desde 1981 pertencemos à mesma família. Nós, os alemães, contribuímos como ninguém mais para um Fundo comum, com mais de 200 mil milhões de euros, enquanto a Grécia recebeu cerca de 100 mil milhões dessa verba, ou seja a maior parcela per capita de qualquer outro povo da U.E. Nunca nenhum povo até agora ajudou tanto outro povo e durante tanto tempo. Vocês são, sinceramente, os amigos mais caros que nós temos. O caso é que não só se enganam a vocês mesmos, como nos enganam a nós. No essencial, vocês nunca mostraram ser merecedores do nosso Euro. Desde a sua incorporação como moeda da Grécia, nunca conseguiram, até agora, cumprir os critérios de estabilidade. Dentro da U.E., são o povo que mais gasta em bens de consumo.

Vocês descobriram a democracia, por isso devem saber que se governa através da vontade do povo, que é, no fundo, quem tem a responsabilidade. Não digam, por isso, que só os políticos têm a responsabilidade do desastre. Ninguém vos obrigou a durante anos fugir aos impostos, a opor-se a qualquer política coerente para reduzir os gastos públicos e ninguém vos obrigou a eleger os governantes que têm tido e têm. Os gregos são quem nos mostrou o caminho da Democracia, da Filosofia e dos primeiros conhecimentos da Economia Nacional. Mas, agora, mostram-nos um caminho errado. E chegaram onde chegaram, não vão mais adiante!!!

Na semana seguinte, o Stern publicou uma carta aberta de um grego, dirigida a Wuelleenweber:

Caro Walter,

Chamo-me Georgios Psomás. Sou funcionário público e não “empregado público” como, depreciativamente, como insulto, se referem a nós os meus compatriotas e os teus compatriotas. O meu salário é de 1.000 euros. Por mês, hem!… não vás pensar que por dia, como te querem fazer crer no teu País. Repara que ganho um número que nem sequer é inferior em 1.000 euros ao teu, que é de vários milhares. Desde 1981, tens razão, estamos na mesma família. Só que nós vos concedemos, em exclusividade, um montão de privilégios, como serem os principais fornecedores do povo grego de tecnologia, armas, infraestruturas (duas autoestradas e dois aeroportos internacionais), telecomunicações, produtos de consumo, automóveis, etc.. Se me esqueço de alguma coisa, desculpa.

Chamo-te a atenção para o facto de sermos, dentro da U.E., os maiores importadores de produtos de consumo que são fabricados nas fábricas alemãs. A verdade é que não responsabilizamos apenas os nossos políticos pelo desastre da Grécia. Para ele contribuíram muito algumas grandes empresas alemãs, as que pagaram enormes “comissões” aos nossos políticos para terem contratos, para nos venderem de tudo, e uns quantos submarinos fora de uso, que postos no mar, continuam tombados de costas para o ar. Sei que ainda não dás crédito ao que te escrevo. Tem paciência, espera, lê toda a carta, e se não conseguir convencer-te, autorizo-te a que me expulses da Eurozona, esse lugar de VERDADE, de PROSPERIDADE, da JUSTIÇA e do CORRECTO.

Estimado Walter, Passou mais de meio século desde que a 2ª Guerra Mundial terminou. QUER DIZER MAIS DE 50 ANOS desde a época em que a Alemanha deveria ter saldado as suas obrigações para com a Grécia. Estas dívidas, QUE SÓ A ALEMANHA até agora resiste a saldar com a Grécia (Bulgária e Roménia cumpriram, ao pagar as indemnizações estipuladas), e que consistem em:

1. Uma dívida de 80 milhões de marcos alemães por indemnizações, que ficou por pagar da 1ª Guerra Mundial;

2. Dívidas por diferenças de clearing, no período entre-guerras, que ascendem hoje a 593.873.000 dólares EUA.

3. Os empréstimos em obrigações que contraíu o III Reich em nome da Grécia, na ocupação alemã, que ascendem a 3,5 mil milhões de dólares durante todo o período de ocupação.

4. As reparações que deve a Alemanha à Grécia, pelas confiscações, perseguições, execuções e destruições de povoados inteiros, estradas, pontes, linhas férreas, portos, produto do III Reich, e que, segundo o determinado pelos tribunais aliados, ascende a 7,1 mil milhões de dólares, dos quais a Grécia não viu sequer uma nota.

5. As imensuráveis reparações da Alemanha pela morte de 1.125.960 gregos (38,960 executados, 12 mil mortos como dano colateral, 70 mil mortos em combate, 105 mil mortos em campos de concentração na Alemanha, 600 mil mortos de fome, etc., et.).

6. A tremenda e imensurável ofensa moral provocada ao povo grego e aos ideais humanísticos da cultura grega.

Amigo Walter, sei que não te deve agradar nada o que escrevo. Lamento-o. Mas mais me magoa o que a Alemanha quer fazer comigo e com os meus compatriotas. Amigo Walter: na Grécia laboram 130 empresas alemãs, entre as quais se incluem todos os colossos da indústria do teu País, as que têm lucros anuais de 6,5 mil milhões de euros. Muito em breve, se as coisas continuarem assim, não poderei comprar mais produtos alemães porque cada vez tenho menos dinheiro. Eu e os meus compatriotas crescemos sempre com privações, vamos aguentar, não tenhas problema. Podemos viver sem BMW, sem Mercedes, sem Opel, sem Skoda. Deixaremos de comprar produtos do Lidl, do Praktiker, da IKEA. Mas vocês, Walter, como se vão arranjar com os desempregados que esta situação criará, que por ai os vai obrigar a baixar o seu nível de vida, Perder os seus carros de luxo, as suas férias no estrangeiro, as suas excursões sexuais à Tailândia?

Vocês (alemães, suecos, holandeses, e restantes “compatriotas” da Eurozona) pretendem que saíamos da Europa, da Eurozona e não sei mais de onde. Creio firmemente que devemos fazê-lo, para nos salvarmos de uma União que é um bando de especuladores financeiros, uma equipa em que jogamos se consumirmos os produtos que vocês oferecem: empréstimos, bens industriais, bens de consumo, obras faraónicas, etc. E, finalmente, Walter, devemos “acertar” um outro ponto importante, já que vocês também disso são devedores da Grécia: EXIGIMOS QUE NOS DEVOLVAM A CIVILIZAÇÃO QUE NOS ROUBARAM!!! Queremos de volta à Grécia as imortais obras dos nosos antepassados, que estão guardadas nos museus de Berlim, de Munique, de Paris, de Roma e de Londres. E EXIJO QUE SEJA AGORA!! Já que posso morrer de fome, quero morrer ao lado das obras dos meus antepassados.

Cordialmente, Georgios Psomás

Um olhar sobre a crise grega – ou: Sobre números e pessoas

Postado em Atualizado em

Por Barry Yanowitz
Occupy Wall Street

A Grécia está passando um mau bocado. Eu sei que é difícil para nós, que moramos em um país emergente, entender todo fuzuê sobre a crise econômica europeia. Afinal, o salário mínimo grego (que é o menor da Europa), vale cerca de 700 euros, contra uns 250 euros que recebem os trabalhadores brasileiros. Na Itália, quando são demitidos, os trabalhadores têm direito a um bom auxílio por dois anos. Os europeus têm a melhor infraestrutura, os melhores serviços, as melhores habitações. Então do que reclamam? Para mim também foi difícil entender no início. Mas o que está em jogo na Europa não é só um estilo de vida luxuoso.

Há algumas décadas, o Velho Mundo parecia ter atingido o equilíbrio ideal entre políticas sociais e uma sólida economia de mercado. Os países enriqueceram e o povo prosperou. Direitos dos trabalhadores e de minorias foram consolidados. A violência caiu e a expectativa de vida disparou. Mas a crise que abalou a economia americana desde 2008 vem fazendo com que a balança pese para o lado das grandes corporações.

A maioria dos países da zona do euro tem déficit orçamentário, ou seja: gasta mais do que ganha. Qualquer dona de casa sabe que isso significa enfiar a cara nas dívidas. Não deu outra. Quebrados, países como Portugal, Irlanda e Grécia se viram obrigados a pedir empréstimos de emergência. O FMI, o Banco Central Europeu e a União Europeia ajudaram. Mas em troca têm cobrado políticas de austeridade que ajudem a garantir que a dívida dos países será paga sem prejudicar a estabilidade do euro.

by *Bloco
Protesto português

Os governos passaram então a cortar gastos públicos, o que significa cortes de empregos e programas sociais e redução no valor de salários e aposentadorias. Ou seja: várias conquistas que garantem a qualidade de vida dos cidadãos europeus começam a se desfazer. Conversando com um amigo grego, eu perguntei: “mas vocês não têm uma constituição que garanta que esses direitos não possam ser mudados?” Ele disse que estão querendo alterar a lei para permitir que isso seja feito.

Imagine você se, ao invés de aumentar, resolvem reduzir os salários dos professores públicos. Pois é. O caminho é mais ou menos por aí. Se todo mundo estivesse apertando os cintos pelo bem do país, até que daria para aguentar. Mas o que tem deixado as pessoas indignadas é justamente o fato de se estar cobrando da população para se dar aos grandes credores e especuladores (leia-se: bancos e acionistas). E mais: sem nenhum tipo de consulta. É como disse o deputado português do Parlamento Europeu, Miguel Portas, no vídeo abaixo. “Ficou muito claro que foi a dupla de Sarkozy [o presidente francês] e da senhora Merkel [a chanceler alemã], a dupla “Merkozy”, que tomou todas as decisões pelos gregos. E nenhum povo gosta de ser mandado, espezinhado e tratado como se valesse muito menos que os mercados financeiros”.

O resultado? Protestos em massa, é claro. Não só na Grécia, Irlanda e Portugal. Até em Nova York surgiu o movimento “Occupy Wall Street“. Porém, quando o primeiro-ministro grego “teve um momento de sanidade”, como diz Miguel Portas, e convocou um referendo, foi duramente criticado. Diz o deputado: “o que aconteceu na Grécia ao longo desta semana não foi, ao contrário do que muitos comentadores disseram, um atitude absurda e esdrúxula de um primeiro ministro instável e que resolveu propor um referendo num momento de desespero. Jamais um primeiro-ministro proporia ao seu povo um referendo, não fosse o fato de ele se sentir absolutamente entalado entre, por um lado as imposições dos programas de austeridade vindos dos credores e por outro lado um povo que já está muito castigado e indignado”.

by how will i ever
Protesto grego

Ele coloca as coisas de um modo bem claro: “os líderes políticos ouvem todos os dias os mercados financeiros. Acordam todos os dias a saber como estão as bolsas. Mas ai se algum deles quer ouvir o povo!”. Seriam a democracia e o mercado financeiro inconciliáveis?

O pior é que, querendo ou não, a Europa Ocidental é o modelo para o resto do mundo. Nesse momento, esse modelo parece estar tomando uma direção vergonhosa. Vale a pena sacrificar o bem-estar social de alguns países para salvar o euro? Conseguirá o povo – europeu ou não – fazer oposição a essas políticas a ponto de impedí-las?

São cenas dos próximos capítulos.

Vale a pena ver também:

O divórcio entre capitalismo e democracia – Luis Nassif

Infográfico da BBC que explica direitinho

.

Gostou deste post? Leia mais:
Um comentário sobre a crise grega
O manifesto de José Saramago
O fio da história

.

Diálogos bizarros no exterior*

Postado em Atualizado em

I

Eu tentando improvisar um portunhol com a porto-riquenha no albergue em Lisboa.

Ela: te vas a salir hoy? (significa: vai sair hoje? porque “hoje” em espanhol se diz “hoy”, mas a pronúncia é como em “oi”)
Eu não entendi o que ela disse e perguntei: oi?
Ela: sí, hoy.
Eu: oi?
Ela: sí.
Eu: oi?
Ela: hoy.
Eu: oi?
Ela: sí!
Eu: ok, let’s speak english…

.

.

II

Três brasileiras e uma australiana/neo-zelandesa em um restaurante em Barcelona, sujas até as orelhas de paella e falando em inglês sobre futebol.

Brasileira 1: a rivalidade entre Brasil e Argentina no futebol é bem  antiga. Agora eles têm um novo jogador, que dizem que pode se tornar o novo Maradona.
Eu: it’s Messi.
Australiana: yes, it’s messy (se referindo à lambança que eu estava fazendo com o camarão).

Foi aí que eu descobri que os australianos têm tanto interesse em futebol quanto nós temos em hóquei.

.

.

III

Durante um protesto da extrema direita em Londres.

Um dos líderes, tentando me explicar o motivo da manifestação: imagina se um monte de estrangeiros fosse para o Brasil e começasse a querer mudar as leis por lá?
Eu: mas foi assim que o Brasil foi feito!

E paramos por aí.

.

.

*Inaugurando a seção de variedades nada-a-ver do blog. =D

.

Ps: e eu coloco hífen onde eu quiser mesmo!

Valor de mercado

Postado em Atualizado em

Soldado anônimo numa imagem anônima*

Se 1 israelense = 25 egípcios = 1.027 palestinos

Então 1 egípcio equivale a 41,08 palestinos?

Uma reflexão que vale a pena ser feita, principalmente após ler o texto “Impessoas“, de Noam Chomsky.

Para saber mais sobre a vida entre Israel e Palestina, também vale a pena conferir o documentário “Sobre Futebol e Barreiras“.

*A bandeira diz: “Não há bandeira grande o bastante para cobrir a vergonha de se matar pessoas inocentes”.

Uma cidade mais útil

Postado em Atualizado em

Um grupo de designers franceses percebeu que a cidade em que viviam precisava ser mais criativa e humana. Então decidiram criar pequenas ferramentas que transformavam e davam novos usos para bancos, cabines telefônicas, máquinas de café. Assim, as pessoas que iriam jogar uma sacola no lixo poderiam deixar a embalagem em um compartimento especial para que outros reaproveitassem o material. Cabines telefônicas ganharam carregadores de celular e muros ásperos ganharam ganchos para pendurar roupas.

Achei interessante. Me fez pensar que as pessoas que usam os espaços públicos são justamente as que têm mais conhecimento para interferir na cidade.

A vida em um dia

Postado em Atualizado em

Ah, as maravilhas que a tecnologia nos proporciona… Como por exemplo testemunhar o que aconteceu na vida de várias pessoas ao redor do mundo no dia 24 de julho de 2010.

O diretor Kevin Macdonald e o produtor Ridley Scott fizeram um pedido no You Tube para que as pessoas enviassem um fragmento de suas vidas nesse dia em forma de vídeo. O resultado foi esse:

Quanto espaço você precisa para viver?

Postado em Atualizado em

Num tempo em que carros e casas aumentam de tamanho enquanto a metragem do mundo continua a mesma, Christian Schallert dá um exemplo de sustentabilidade. O vídeo está em inglês, mas é bem fácil de entender.

O apatamento dele fica em Barcelona, tem 24 m² e é um primor de organização e aproveitamento do espaço. É interessante os conceitos nos quais ele se inspirou. O primeiro deles são os pequenos barcos, nos quais tudo tem que ficar escondido para não desmoronar na hora da vigem. O segundo é um episódio de sua infância. Ele se lembra de ter um grande sofá em casa. Gostava então de juntar todas almofadas em um canto e ficar deitado no meio delas. Me faz pensar se não estamos desperdiçando espaço ao comprar imóveis tão grandes.

Não creio que eu conseguiria viver no apartamento de Christian. Confesso que sou um pouco estabanada. Além disso, acho que eu ia acabar superlotando todos os compartimentos e ficar com preguiça de arrumar e fechar tudo. Hoje vivo em 27 m², mas tenho vontade de me mudar para um lugar maior. Será que um dia vou morar num mega espaço ocioso sem me dar conta? Algo a se pensar.

E você, já parou para pensar quanto espaço realmente precisa para viver?

Vi o vídeo no mini-apê da Laura.