palestina

Pra não dizer que eu não falei das flores

Postado em Atualizado em

Linda a sequência de fotos captada pelos fotógrafos Majdi Mohammed, da Associated Press, e Mohamad Torokman, da Reuters.

crédito: Mohamad Torokman/Reuters

Dada a profusão de restos de granadas de gás lacrimogênio presente na palestina, os moradores de uma cidade chamada Bilin, na Cisjordânia, resolveram plantar flores dentro das embalagens das granadas, num estilo aprimorado daquele pessoal que entregava flores para os soldados nos anos 60. A galeria completa está na página do G1.

Leia o resto deste post »

Valor de mercado

Postado em Atualizado em

Soldado anônimo numa imagem anônima*

Se 1 israelense = 25 egípcios = 1.027 palestinos

Então 1 egípcio equivale a 41,08 palestinos?

Uma reflexão que vale a pena ser feita, principalmente após ler o texto “Impessoas“, de Noam Chomsky.

Para saber mais sobre a vida entre Israel e Palestina, também vale a pena conferir o documentário “Sobre Futebol e Barreiras“.

*A bandeira diz: “Não há bandeira grande o bastante para cobrir a vergonha de se matar pessoas inocentes”.

O arame farpado da história

Postado em Atualizado em

Consegui montar uma imagem que descreve bem o que eu quis dizer no texto anterior.

cercag

Uma imagem não vale por mil palavras?

O fio da História

Postado em Atualizado em

canoaTenho um amiga de muitos anos. Ela é um pouco mais velha que eu, e tem cinco filhos com seu marido (anticoncepção não é lá o forte dela). Quando ela casou, já grávida pela primeira vez, foi morar numa casa linda com seu esposo, num sítio. Na realidade, os pais do seu marido também moravam lá. Ela diz que gosta, porque assim os avós podem ver os netos crescerem. A menina mais velha dela se parece muito com ela, tem os mesmos olhos verdes, o mesmo sorriso e a mesma inteligência aguçada. O mais novo acabou de aprender a andar. As crianças sonhavam em andar de barco no lago que tinha perto da cidade, e por isso eles estavam construindo uma canoa.

Mas no mês passado, recebi notícias tristes. O governo alegou que as terras do marido dela eram públicas e teriam que ser expropriadas. Ela passou duas semanas reunindo todos os documentos que possuía, falando com todas pessoas importantes que conhecia. Lhe deram uma esperança. Mas no dia seguinte, policiais chegaram com uma escavadeira, pronta para derrubar a casa. Ela, o marido e seus sogros rogaram pelo amor de Deus que lhes dessem mais um dia, para retirar os pertences e encontrar um novo lugar. Não quiseram conversa. Em um ato de desespero, seu marido se colocou na frente da escavadeira para tentar impedir a derrubada da casa. Dois dos guardas começaram a agredí-lo com pontapés e coronhadas. Seu pai tentou impedir que o filho fosse ferido, e entrou na briga. Um dos guardas lhe acertou a cabeça com um pedaço de pau, e o homem de 70 anos não aguentou e morreu.

O marido da minha amiga, ao ver a cena, partiu para cima dos guardas mais uma vez e foi morto por tiros. Desesperada, ela e a sogra tentavam pedir ajuda, quando a escavadeira avançou. Seu filho caçula, que ainda estava na casa, não conseguiu sair do berço. Desesperados, ela, a sogra e quatro filhos agora pedem esmolas nas ruas, e não conseguem nem se lembrar que estavam construindo uma canoa para navegar no lago. No lugar do sítio dela agora há um resort. Um dia ela pegou sua filha mais velha de 10 anos, a que tem os olhos iguais aos dela, amarrando uma corda numa árvore para se enforcar, e dizia: “Não quero mais viver”.

Essa hitória não é verídica. Mas se assemelha a milhares de histórias que palestinos passam num lugar chamado Israel. O último fato é verdadeiro, e foi contado no documentário “Ocupation 101“.

Trago esse assunto em forma de história porque descobri, conversando com pessoas que não se importam muito com esses temas, que elas se sentem muito mais tocadas se eu disser “tenho uma amiga que teve a casa demolida com o filho dentro” do que se eu falar “definitivamente, a situação na faixa de Gaza está insustentável”. Algumas pessoas não ligam para política, mas elas ligam para histórias, sentimentos, sonhos, vidas. Infelizmente, a maioria é assim.

Quando alguns judeus decidiram que criariam o estado de Israel e não importaria quem estivesse no local, balançaram e devastaram um monte de vidas, de histórias que iam bem e derrepente perderam o fio. Em parte, isso foi uma resposta a um antissemitismo que existiu por muito tempo na Europa, no qual todos os dias pessoas como eu ou você passavam por um inferno e eram tratadas como lixo. Eles pensaram então que o único local no qual estariam seguros seria no seu próprio país. E as coisas se agravaram exponencialmente quando Hitler começou a exterminar milhares que pertenciam ao grupo deles.

Mas Hitler só chegou e se manteve no poder por causa de uma Alemanha humiliada, que caiu tão fundo no fosso como os palestinos quando perderam suas casas. Um dos lados mais fortes da segunda guerra mundial, os EUA, que ajudou a devastar a Alemanha, tinha acabado de sair de uma crise financeira terrível, na qual as pessoas estavam desesperadas por emprego, famintas e buscando desesperadamente não perder o que haviam conquistado.

Não sou historiadora, e sei que tem inúmeros fatores que influenciam em tudo. O que estou tentando demonstrar é como cada humiliação é fruto de uma humiliação anterior, e gera uma humiliação futura. Quem apanhou sempre quer bater em alguém, arranjar um grupo que não tem nada a ver com o assunto para descontar.

E os palestinos? Bem, a reação deles já está acontecendo. Além disso, os atentados de 11 de setembro não estão tão longe desse mapa. E aí os árabes que moram/estudam/trabalham nos EUA é que sofrem com o preconceito e uma política ferroz dos norte-americanos. E quem será o próximo a apanhar?