salvar vidas

De psiquiatras e tabus

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Olá, meu nome é Larissa e eu tenho depressão endógena. Eu tomo remédios controlados desde os 16 anos e vou no psiquiatra a cada dois meses.

Já ensaiei escrever este texto muitas vezes. Acabei apagando por medo de “me queimar”, não entre os meus amigos, mas principalmente entre os meus colegas de profissão. Já falei desta doença aqui no blog e fiz referências a “alguém muito querido” que sofre com isso. Já menti várias vezes no trabalho, quando indagada a qual médico eu ia (neurologista, para a enxaqueca, era a resposta padrão) e sobre para quê eu estava tomando remédio. E já fiquei em silêncio enquanto ouvia um colega de trabalho dizer que a moça que estava se candidatando ao mesmo cargo que eu era louca, porque “tomava remédios tarja preta e ia no psiquiatra”.

Se eu sinto a necessidade de me calar e esconder algo que deveria ser natural, é porque existe um tabu. E se existe um tabu, ele precisa ser discutido.

Então aqui estou eu, respirando fundo, com o exemplo de mim mesma.

Só o Mr. Newman me entende.
Só o Mr. Newman me entende.

Vamos lá. Existe uma grande confusão entre os conceitos de tristeza e depressão. A tristeza é uma reação normal a um acontecimento difícil. Foi demitido? É claro que é motivo para ficar pra baixo, a reação saudável é mesmo ficar chateado até conseguir retomar as rédeas da vida. Já a depressão que a maioria das pessoas conhece, chamada de depressão exógena, é quando essa tristeza por algo que aconteceu se prolonga por muito tempo. Acontece com gente que perdeu um ente querido e depois “não consegue mais retomar a vida”. Isso não é uma fraqueza ou “manha” da pessoa. Mulheres e homens têm diferentes formações emocionais e mentais. Qualquer um pode entrar numa espiral de depressão e precisar de ajuda para sair de lá, e esses episódios têm que ser levados muito a sério.

Já o problema que eu tenho é a chamada depressão endógena. “Endo”, em oposição a “exo” se refere a algo que vem de dentro. Isso significa que as causas das minhas quedas de humor são majoritariamente bioquímicas e determinadas por fatores genéticos. Os próprios médicos não sabem explicar exatamente o que acontece, já que o cérebro humano ainda é um mistério para a medicina. Mas a maioria parece concordar que o problema é relacionado à recepção dos neurotransmissores, como a serotonina e a dopamina (conhecidos por causarem sensação de bem-estar). Ainda há dúvidas se o problema é que existem poucos receptores dessas substâncias ou se eles não funcionam de maneira adequada. E não, não existem exames para medir isso.

Então a minha depressão não tem um “motivo”. O que geralmente é um problema, porque quando eu digo que não estou bem as pessoas costumam perguntar “o que aconteceu?” e não dá o pra dizer que “meus receptores de serotonina decidiram entrar em greve ontem à noite”. Para esclarecer, eu gosto muito de comparar a depressão endógena com o diabetes causado por herança genética. Ambos são causados por fatores internos, mas podem ser agravados ou amenizados por fatores externos. Por exemplo: um diabético pode adotar uma alimentação saudável e exercícios físicos e até chegar dispensar as aplicações de insulina. Algo semelhante acontece com quem tem depressão endógena, sendo que o melhor antídoto é a terapia, e acontecimentos impactantes ou mudanças bruscas também podem desencadear uma crise. Ambos os males são doenças crônicas que, se bem controladas, permitem que as pessoas levem vidas normais, mas que terão que ser vigiadas para o resto da vida.

Só que, diferentemente do diabetes, em que você pode medir seu índice glicêmico e avaliar a evolução da doença, não existem exames para medir o grau de depressão de uma pessoa. E é aí que mora o perigo. Eu fui diagnosticada muito cedo, aos 16 anos, principalmente pelo fato de a minha mãe ter uma versão bem grave dessa doença e sempre ter ficado de olho nos meus sintomas. E isso, como no diabetes, foi fundamental para que eu pudesse controlar a doença. Mas eu mesma não tinha nem ideia de que tinha alguma coisa errada comigo. Eu me sentia cansada o tempo todo, dormia muito e raramente tinha vontade de sair com meus amigos, mas achava que eu era assim mesmo. Me lembro de escrever no meu diário numa virada de ano: “podia ter um intervalo entre um ano e outro, em que eu não tivesse a obrigação de existir e pudesse descansar”. Eu me cansava de existir.

Sabe quando você descobre que acabou a nutella? Era assim todo dia.
Sabe quando você descobre que acabou a nutella? Era assim todo dia.

Com o tempo, com terapia e remédios adequados (hoje eu tomo um antidepressivo e um estabilizador de humor) eu consegui começar me erguer e partir para a vida, mas ainda tive várias crises que duraram meses, sempre com um intervalo de mais ou menos três anos entre elas. Minha última crise aconteceu no meio de 2012. Não creio que meus colegas de trabalho tenham reparado, porque felizmente sempre consegui cumprir minhas tarefas apesar da minha angústia. Hoje, o principal objetivo que eu, minha psiquiatra e minha terapeuta temos é evitar novas recaídas. Mas eu sempre tive uma dúvida: seria eu só mais uma adolescente enjoada? Seria a depressão nada mais do que parte da minha própria personalidade? Eu não sei. Hoje eu posso dizer que estou em um dos meus melhores momentos dos últimos anos, e tenho a sensação que os medicamentos que eu tomo me permitem que eu tenha disposição para ser eu mesma. Mais do que isso, tenho a sensação de que não existe nada que possa alterar quem eu fundamentalmente sou.

Ainda quero voltar depois ao assunto da depressão. Por agora digo que se você está passando por uma fase de tristeza profunda muito prolongada, seja por causa de uma situação difícil ou principalmente sem motivo nenhum, procure ajuda. Mais do que procurar ajuda, estude. Leia tudo o que puder sobre a depressão, aprenda tudo o que puder sobre o funcionamento do seu cérebro. Converse com quem foi diagnosticado com a doença, com médicos, terapeutas. E nunca, jamais, tome remédios psiquiátricos ou pare de tomá-los por conta própria.

Atualização – leia o segundo post da série aqui: O caminho dos nossos medos

Santa Maria e a nossa responsabilidade

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Tem circulado uma carta na internet, a princípio escrita por uma das vítimas do incêndio na boate Kiss em Santa Maria. No texto a menina comenta sobre o momento no qual a Dilma chorou ao comentar sobre a tragédia ou visitar os parentes das vítimas e literalmente pede para a presidente “engolir o choro” e fazer alguma coisa.

Clique aqui para ler a carta.

Pois é. Não precisa conhecer muito de política para dizer que muita gente trata governantes e políticos como deuses ou demônios. Num momento eles são os grandes benfeitores do País, aqueles que “colocaram o Brasil nos trilhos” e no outro eles são os responsáveis por toda desgraça que acontece, da consciência do funcionário não-treinado à epidemia de crack nas ruas.

É de todos nós.
É de todos nós.

Existe o hábito de ver os governantes como os únicos jogadores do jogo do soberania brasileira, enquanto todos nós somos apenas expectadores que ficam xingando, lá da arquibancada. Como se não tivéssemos nada a ver com as políticas públicas e com o comportamento da sociedade.

Há alguns anos eu trabalhei numa ONG chamada Oficina de Imagens e, entre outros trabalhos, ajudava num programa da Unicef chamado “Município Aprovado“. A ideia ajudar as prefeituras das pequenas cidades do norte de Minas a melhorar os indicadores sociais do município, como taxa de desnutrição, acesso à escola e etc. No final, as cidades que conseguissem avançar ganhavam um selo reconhecido internacionalmente. E o que se via era que, por mais dinheiro que uma região tivesse, a mudança só acontecia de verdade quando a comunidade inteira ajudava.

Ainda me lembro do que me disse um dos coordenadores do programa, algo assim: “As pessoas acham que o papel dos governantes é resolver todos os problemas da cidade para elas. Mas a verdade é que se as pessoas não se envolverem, as prefeituras e os governos não dão conta de mudar o cenário sozinhos”.

No final a lição de Santa Maria é essa. O que matou mais de 200 jovens não foi o fogo ou a fumaça. Foi o descaso e a negligência com a segurança das outras pessoas, cometidas tanto pelos órgãos públicos quanto pelos empresários e pelos músicos em nome da economia ou da comodidade. Agora pare e pense: quantas vezes você já burlou as regras em nome da comodidade e da economia?

Deixa eu te ajudar. Você já falsificou carteirinha de estudante? Já dirigiu depois de beber? Já pediu pra aquele médico amigão da família fazer uma receita de remédio controlado, porque você precisa viajar e a cartela está no fim? Já furou fila? E essa vai para os amiguinhos jornalistas: você já usou sua influência profissional para ser atendido antes em órgãos públicos ou entrar sem pagar em museus e shows?

Pois é. Que tal se, além de culpar a todos os governantes, empresários e políticos do país, a gente parasse para pensar e colocasse a mão na consciência?

Quem quiser mais sobre esse assunto, também recomendo o texto do Antônio Prata, que está fantástico.

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Gostou do post? Então leia mais:
Reclame dos serviços públicos
Os Guarani-Caiová e o ativismo de sofá
O governo não é seu inimigo
A decisão do STF sobre a Ficha Limpa (de 2011)

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Outubro Rosa (ou: toque seus peitos)

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Ah, se as mulheres prestassem tanta atenção aos seus peitos quanto os homens…

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Outubro é o mês dedicado à prevenção do câncer de mama. Estão rolando campanhas lindas por aí, todas cor-de-rosa. =)

É o seguinte: o câncer de mama é o segundo mais frequente do mundo. A estimativa é que neste ano mais de 52 mil brasileiras morram pela doença. Sem falar nas que sobrevivem, mas têm que passar pelo processo super doloroso de reconstrução das mamas.

Acontece que o câncer de mama é muito fácil de ser detectado. Para quem não conhece, vai uma cola do auto-exame aí embaixo, feito pelo Plush Blush. Além disso, é importante fazer uma mamografia anual, principalmente as mulheres acima de 35 anos. Esse exame consegue detectar tumores bem pequenos, e nesse estágio a chance de cura é de 95%!

No Brasil a mortalidade é muito alta, principalmente porque as mulheres deixam de fazer esses exames e o tumor só é detectado quando está do tamanho de uma bola de golfe (ok, exagerei). Mas é sério. Meninas, aproveitem o mês para marcar sua mamografia anual. Estamos chamando esse dia de “dia rosa”. Fofo.

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Então reserve seu dia rosa e encha o saco incentive mãe, filhas, irmãs, avós, tias, primas, amigas e colegas a fazerem o mesmo.

E pra quem quiser conhecer mais sobre o tema e ler histórias bacanas:

Pesquisa da Avon, mostra que o amor é fundamental para a cura
 História da Simone Mozzilli
 Site do Outubro Rosa no Brasil
 Seção do blog Plush Blush dedicada ao tema
 Videozinhos divertidos sobre o tema

Belo Monte: a gota d’água

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O movimento contra a construção da usina de Belo Monte ganhou aliados poderosos: atores globais!

Ei dona Dilma e pessoal do “desenvolvimento acima de tudo”: vocês a acham que podem tudo? O povo pode mais! (tá ok, empolguei)

É a Gota D’ Água +10 from Movimento Gota d’ Agua on Vimeo.

Vale a pena entrar no site Gota D’água e assinar o manifesto.

Também vale conhecer o blog Belo Monte de Violências, do brilhante procurador da República no Pará, Felício Pontes Jr. Por si só esse site já vale outro post.

De sapos a gatos

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Lucy antes…

Essa primeira foto foi tirada em fevereiro, no dia que eu resgatei a Lucy. Ela estava magrinha, imunda e esfomeada. De lá pra cá ela foi castrada, vacinada, vermifugada, bem alimentada e o principal: ganhou um local seguro para morar e muitos cafunés. Quatro meses depois, eis o resultado:

… e depois

Essa foto de celular não faz jus ao quanto ela está linda e feliz. É um poço de carinho. Pede colo todo dia e criou o hábito de fazer manha quando eu estou de saída pro trabalho. Brinca de lutinha e de pega-pega com as minhas gatas o dia inteiro. Sinceramente, meu coração aperta muito quando penso em doá-la. Como é que eu entrego essa criaturinha para um estranho?

ooohhh

Quando mostrei essa foto para o dono da banca (que se preocupa e pergunta todo dia sobre ela), ele chegou até a perguntar se era a mesma.

Essa comparação é para mostrar o quanto vale a pena ajudar um animal que vive nas ruas, que sofre. A gratidão deles por nós não tem medida. E o meu caso é ainda bem sem graça se comparado a alguns que já aconteceram na AUG. Outro dia vimos uma gata que antes era super agressiva (a ponto de atacar quando as voluntárias tentavam vaciná-la e medicá-la) se desmanchar de dengos diante dos carinhos da sua nova dona. O fato de se sentirem protegidos e amados é tão importante para os animais, que muitos deles mudam de personalidade na casa da família que o adotou.

Em tempo: a AUG está com uma campanha do agasalho para animais. Vale a pena participar.

**ATUALIZAÇÃO:
É claro que no final ela foi adotada. Por mim. A Lucy é minha e ninguém tasca!

Um homem de bem a menos

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Assistindo ao discurso de Zé Claudio Ribeiro no TEDx Amazônia, me lembrei que não chequei se a madeira da minha escrivaninha é certificada. Encomendei em outubro de uma loja em SP e simplesmente me esqueci desse ponto. Que mancada.

Zé Cláudio foi morto na semana passada, junto com sua mulher. Mais um para se somar ao triste time de Chico Mendes e irmã Dorothy.

O que ele tentava dizer era: “a floresta vale mais em pé do que derrubada”. Que descanse em paz.

Em tempo: andam dizendo que o novo Código Florestal tem culpa no assunto. O que acham?

 

Compre um jornal e ganhe um gato

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Foto por Dani Xavier, voluntária da AUG e catsitter profissional

Certo dia estava eu a caminho do restaurante perto do trabalho, quando me chamaram a atenção para um filhote em frente a uma banca. Como aqui em São Paulo muitas lojas têm gatos, e o bichano dormia em frente às revistas sem a menor cerimônia, achei que já tinha quem cuidasse dele. Qual não foi a surpresa, quando o jornaleiro me disse que o bichinho tinha aparecido ali naquele dia e resolvido “montar acampamento” por lá mesmo. Apesar disso, o dono da banca não parecia achar que o problema era dele (afinal, o problema dos animais de rua nunca é de ninguém, só da prefeitura, que não dá conta de solucionar a questão sozinha, mas enfim…) e me ofereceu a gata, como se fosse um brinde que acompanha a revista.

Já prevendo o desfecho, a frajolinha começou a ronronar feliz e pedir cafuné, provando que a escola da rua lhe ensinou muito bem a arte da chantagem emocional. Meia hora depois eu estava dentro de um táxi, com uma caixa improvisada e sem a mínima ideia do que fazer com aquele projeto de gato, apenas com a certeza que não podia deixar ela morrer sozinha na rua.

Desde então Lucy ganhou nome, lar temporário, banho, doses de vacina e vermífugo. Devorou o primeiro pote de ração como se fosse o fim dos tempos, correu atrás das minhas (duas) gatas até criar amizade e ronronou no meu colo por horas seguidas. Ela também foi castrada e está disponível para adoção na ONG Adote um Gatinho. Me ajudem a divulgar? Doaremos apenas para a grande São Paulo, para apartamentos telados ou casas seguras (onde ela não possa sair para a rua).

E para provar que a Lucy dá de dez em qualquer gato de madame, eis ela na caçada ao misterioso pontinho vermelho:

 

 

Escolha a sua causa

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oiê!

Depois que trabalhei na Oficina de Imagens (ou mesmo antes disso) fiquei com vontade de aderir a todas as causas. Queria ajudar crianças, queria ajudar animais, queria ajudar na conscientização política, enfim: queria fazer alguma coisa pra consertar o mundo (vejam a sensação de onipotência dessa pobre criaturinha). Achei que a melhor solução para isso era montar já uma ONG.

Mas aí, nessas aventuras pelo mundo do terceiro setor, aprendi algumas coisas. A primeira delas: é preciso ter foco. Não adianta tentar abraçar o mundo de uma vez. Isso porque o trabalho nessa área parece simples, mas não é. É preciso estudo, conhecimento, se aprofundar no tema.

A segunda coisa que aprendi é: montar uma ONG não é a solução. Isso porque já existem ONGs demais no Brasil, atuando nas mais diversas áreas. Em vez de abrir mais um pontinho no mapa, o melhor é poupar esforços e ir engrossar o time de uma entidade que já existe. Mesmo que você não encontre exatamente o projeto que quer fazer, é melhor entrar para uma ONG do “ramo” e depois de um tempo propor uma nova iniciativa lá dentro. As entidades já têm o “know-how” e os contatos para trabalhar, e pode ser que elas já tenham tentado fazer o que você propõe antes.

Bom, esse prólogo todo é para contar que quero dedicar um tempo da minha semana para ajudar os animais. Andei pesquisando sobre o assunto e nesse fim de semana visitei a ONG Adote um Gatinho, que atua na grande São Paulo. Como é de se imaginar, lá o trabalho é de recolher gatos das ruas, cuidar deles e encontrar um lar para os bichanos.

O mais incrível desse lugar é que o grupo trabalha há 7 anos totalmente na base do voluntariado. Ou seja: ninguém recebe para estar lá, e no entanto a entidade já encontrou uma casa quentinha para mais de 3 mil gatos. No momento, há cerca de 300 bigodes lá esperando um lar ou se recuparando de doenças e feridas de rua. As despesas são pagas através de doações e vendas de produtos da ONG.

No próximo dia 5, o Adote um Gatinho vai fazer um bazar de natal em São Paulo, de onde esperam tirar uma boa quantia para continuar o seu trabalho. Também há outras formas de ajudar, apadrinhando um gatinho ou comprando na lojinha.

E você? Com que causa tem mais afinidade?

Para ajudar quem ajuda

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Já falei aqui antes do Gatoca, com o qual sou eternamente apaixonada. Para quem gosta de gatos, pode apostar: Bia Levischi fala desses animais como ninguém. E como ela tem uma casa com jardim e mais de dois cômodos, pode ajudar também alguns animais que são despejados por aí como se fossem lixo.

A ideia é acolher gatinhos que vivem nas ruas, tratá-los (vacinar, castrar, vermifugar, alimentar com carinho e amor até o bichinho ficar forte de novo) e encontrar um lar perfeito para o mesmo, como aquelas famílias de comercial de margarina, onde o bichano rolará feliz para o resto da vida.

Exmplos de transformação e histórias com finais felizes não faltam, como a da Lily e da Bolota (lembra dela aqui?).

Acontece que caridade e boa intenção (ainda) não são de graça nesse mundo em que vivemos, e para cobrir as despesas, são traçadas diversas estratégias. Um delas é a rifa deste arranhador bacanão e de um relógio que é uma gracinha.

Funciona assim: você escolhe o nome de um bigode famoso entre os que ainda estão disponíveis. Cada um custa R$ 10. Você pode pagar via Banco do Brasil:

BB
Beatriz Levischi
Ag: 1561-X
C/c: 6830905-8

Ou Itaú:

Itaú
Textrina
Ag: 0185
C/c: 08360-7

Depois disso é só mandar um e-mail para bialevischi@yahoo.com.br com essas informações:

* Nome completo (o seu!)
* E-mail
* Telefone
* Bigode(s) famoso(s) escolhido(s)
* Data, hora, valor do depósito e banco

Feito isto, espere o resultado do sorteio de dedos cruzados.

Ah, e se tiver procurando um companheiro ideal, o Jacob está esperando uma família de comercial de margarina.

Quando o Estado guerreia e a nação pede paz

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Guerrear nem sempre é vontade de todos

Em tempos de Copa do Mundo, em que todo mundo presta atenção nos esportes (pelo menos em um deles), aqui vai um bom exemplo de como essa atividade pode unir pessoas.

Uma dupla de tenistas resolveu usar a rivalidade entre seus dois países não para se acusarem mutuamente ou alcançar objetivos escusos, mas para fazer uma campanha pela paz.

Roham Bopanna é indiano. Aisan Ul-Haq Qureshi é paquistanês. Por causa de uma região denominada Caxemira, os países de ambos trocam farpas (e algumas bombas) há mais de meio século. Ambas as nações possuem armas nucleares.

Esse é mais um exemplo de que um país pode se declarar inimigo de outra nação sem que isso signifique que seus habitantes pensem da mesma forma. Um bom exemplo disso foi a guerra no Iraque. Não só norte-americanos mas pessoas do mundo todo saíram às ruas para condenar a política bélica de George W. Bush. De fato, na época da reeleição desse líder, foi inclusive criado o site Sorry Everybody, (algo como Foi Mal, Pessoal) em que norte-americanos apareciam em fotos exbindo cartazes nos quais pediam desculpas ao mundo pelo país ter reelegido Bush. O ex-presidente terminou seu segundo mandato com uma das mais baixas aprovações da história. Um dos fatores que contribuíram pra isso foi a guerra em busca de supostas (e nunca comprovadas) armas de destruição em massa no Iraque.

A história tem outros exemplos. O maior deles é a guerra do Vietnã. A pressão popular nos anos 60 foi um dos grandes responsáveis pelo fim dos ataques. Mesmo na Alemanha nazista de Hitler, havia grupos contrários. Quem ver o filme Operação Valquíria pode comprovar. Na Rússia pré-revolução socialista, a manutenção do país na guerra foi um dos gatilhos para derrubar o poder vigente.

Enfim, o mundo está cheio de exemplos disso. Um Estado pode entrar em guerra e o governo investir tudo na destruição de um inimigo. Mas nem sempre o seu povo age da mesma forma e sequer aprova a atitude. Às vezes fora dos gabinetes, das salas fechadas dos palácios, as pessoas conseguem pensar com mais clareza e ver que realmente as coisas não são tão complicadas assim. Que talvez uma pelada numa tarde de sol seja, afinal, a melhor maneira de resolver um impasse.

Talvez os governantes devessem ouvir mais as pessoas para quem governam. Afinal, um líder governa para o povo, não governa o povo.

Para adotar um bichano

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Já falei muito sobre ajuda a animais aqui no blog, mas não custa repetir. Porque é triste demais as pessoas tratarem animais como objetos, do tipo “estragou, joga fora”.

Já vi relatos de pessoas que adotam gatos ou cachorros e depois devolvem, porque o animal é agitado demais, ou quieto demais, ou pequeno demais, grande demais, muito novo, muito velho, não combina com a mobília, estraga a mobília, faz cocô demais, e todo tipo de motivos fúteis.

É uma vida, caramba! Se você tivesse um filho, o abandonaria porque ele ficou doente? Porque bagunça demais? Porque não é como você gostaria?

Muita gente acha que animais, principalmente os gatos, “se viram” bem nas ruas. Que vão se curar sozinhos se ficarem doentes, se secarem automaticamente se tomarem chuva ou mesmo se limparem sozinhos e que a comida brota do chão.

Há gente que quer matar todos as gatas da rua porque elas ficam miando quando estão no cio e não o deixam dormir. Engraçado é que essas mesmas pessoas são contra a castração, a maior estratégia para diminuir a população de rua, já que as pessoas continuam a abandonar os bichanos. Essas pessoas querem o quê? Um botão de mute ou de invisibilidade pra esse problema? Isso é infantilidade.

Bom, mas chega de reclamação. Vamos ao que interessa: fiquei sabendo de mais uma instituição, a PEA, que cuida desses animais. Foi criada pela Gaby Toledo, uma publicitária que se apaixonou por animais ao fazer uma campanha sobre essas criaturas. O Mulher 7 x 7 fez uma entrevista com ela.

No site da PEA há um manual sobre o que fazer quando se encontra um animal abandonado. O difícil é que não há lugar para o qual se possa levar o bichano, já que as ONGs estão superlotadas. O jeito é acolher o animal em casa, com os devidos cuidados, até que um lar definitivo seja encontrado.

Para quem quer adotar um bichinho (opção muito mais sustentável do que comprar), existem sites que divulgam os animais. Há tantos gatos e cachorros para doação, que é possível escolher sexo, cor, raça, idade e temperamento. Algumas opções:

Quero um Bicho – PA, PR, RJ, RS, SC, SP
PEA
– SP
Adote um Gatinho
– SP
Cats of Necropolis – SP
Gatinhos de Toda Parte
– SP, RJ, RS, PR, MG
Bichos Gerais – MG
SOS Bichos – MG

Sobre o vazio

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Imagine comigo a seguinte situação. Um amigo senta para conversar com você e te conta: ele tem uma doença. É uma disfunção hormonal no cérebro que se manifesta em crises de tempos em tempos. O mal pode impedi-lo de trabalhar, estudar e inclusive ter uma família. E o pior: quanto mais vezes os sintomas se manifestam, mais é provável que eles voltem a atacar, com ou sem tratamento.

A reação da maioria das pessoas (que se julgam boas amigas) seria de buscar compreender e amparar o enfermo.

Agora imagine outra situação: você tem um amigo que tem tudo na vida. É inteligente, bem-sucedido, tem uma família cheia de saúde e é muito popular. Mas um dia ele passa a demonstrar desinteresse no trabalho, não sai mais com a turma, só reclama e chega até a ficar agressivo em algumas situações. Um dia ele senta com você e te conta: ele está com depressão.

Qual seria a sua reação? Bons amigos ou não, muita gente reage com descrença. O cara tem tudo na vida, está triste por quê? Isso é frescura! Chega até ser injustiça com os menos afortunados um cara desses gastar seu tempo chorando a toa.

O que acontece é que essas são duas maneiras diferentes de se contar a mesma história.

A depressão, doença que ataca na maioria das vezes as mulheres, é fortemente discriminalizada. Muito pouca gente sabe, mas ela pode ter duas causas, simultâneas ou não: uma causa externa (depresão exógena) e/ou uma causa interna (depressão endógena).

A depressão exógena acontece com todos. É aquela tristeza que ataca quando se perde um ente querido ou quando se é demitido. Já a endógena é hereditária e na maioria das vezes ataca em ciclos. A pessoa vive normalmente por anos ou meses e derrepente tem uma forte queda de ânimo, independente de motivos para isso. Não há como evitar a mudança, é fisiológico.

Aí é que está o complicado da questão: é difícil para quem está de fora compreender por quê a pessoa amada está chorando sem motivo. É uma sensação de incompreensão e de impotência muito grande. Afinal, qual é o limite entre fazer corpo mole e uma dor incontrolável?

Falo tudo isso com a experiência de ter uma pessoa próxima de mim, muito amada, que sofre desse mal há muitos anos e teve sua vida devastada pelo vazio. A tristeza de ver alguém que você ama sofrer, definhar na sua frente, sem poder fazer absolutamente nada, é devastadora. Demorei anos para aceitar essa condição, e digo que ainda não consigo lidar bem com ela.

Mas se não posso ajudar quem eu amo, escrevo esse texto na esperança de ajudar parentes e amigos a compreender um pouquinho mais desse mal silencioso e entender que um dia, por mais distante que seja, a dor vai passar.

Salve Darfur, pelo menos no mundo virtual

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Você já imaginou como seria viver como refugiado? Ter que deixar sua casa, talvez sua família e seus amigos para tentar sobreviver em um campo de refugiados onde tudo é escasso. O jogo Darfur is Daying (Darfur está morrendo) tenta mostrar esta dura realidade que se passa com os habitantes de Darfur, uma região no oeste do Sudão, na África. Em guerra civil desde 2003, mais de 400 vilas da regigião foram completamente destruídas. A estimativa é de que mais de 300 mil pessoas morreram no conflito, três vezes mais do que no recente terremoto no Haiti. A ONU estima que 4,7 milhões de homens, mulheres e crianças foram afetados pelo genocídio.

Quando a coisa fica preta no jogo, eles pedem medidas reais. Uma área no site permite que você faça doações, aprenda mais sobre o conflito e até mesmo mandar uma mensagem para o governo norte-americano. Para quem quiser mais informações sobre os eventos, os melhores sites são em inglês. Um  deles é o Save Darfur.

Senhora e bebê procuram lar

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Bolota tem o nariz pintado

O Gatoca é um dos meus blogs favoritos. Não por falar sobre gatos, tema que adoro, mas pelo jeito único que a Beatriz Levischi escreve e pelo modo como ela vê o mundo. Em Gatoca, os gatos são chamados de bigodes e têm a chance de ter sua vida renovada, sair das ruas para ganhar um lar de comercial de margarina, como diz a Beatriz.

Não é isso que sonharíamos para qualquer menino de rua? Pois lá em Gatoca agora estão a Bolota e uma gatinha linda, da cor azul, muito rara e muito desejada entre os criadores. A pequena ainda está em tratamento, mas Bolota (que foi praticamente salva da morte) já está disponível para a adoção.

Mesmo que você não pretenda ter gatos, ou adotá-las, vale dar uma mão e divulgar, principalmente para a região de São Paulo?

Haiti: como ajudar

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No dia 12 de janeiro deste ano, Porto Príncipe, a capital do Haiti, ficou coberta de cal e sangue. “A cidade parecia uma nuvem de poeira” contou um brasileiro que estava no local. Um terremoto de magnitude 7,3 na escala Richter atingiu uma das regiões mais populosas do país. Os mortos chegam a 14 mil, e a tragédia já é a quarta maior na história dos terremotos na América Latina.

Pais, mães, filhos, namorados, sobrinhos e amigos vagam nas ruas tentando encontrar quem amam. No blog de um grupo de estudantes da Unicamp, que está no local, diz que “desde ontem a população dorme nas ruas, e períodos de silêncio são entrecortados por cânticos e clamores, sobretudo após os tremores”.

O Brasil também sofreu grandes perdas: além de 11 militares que estavam a serviço no país, morreu Zilda Arns, uma mulher de 75 anos que salvou milhares de crianças com a simplicidade de um soro caseiro, e que estava ali voluntariamente. Ela foi a criadora das Pastorais da Criança e dos Idosos.

Há várias formas de ajudar, sobretudo enviando dinheiro:

Cartão de crédito

No site da Oxfam America, é possível doar quantias de US$ 35 a US$ 5 mil.

No Yele Haiti Fund, você colabora apenas uma vez ou pode criar um plano de pagamento. As quantias fizas vão de US$ 25 a US$ 300, mas é possível doar mais.

A Cruz Vermelha dos Estados Unidos e a Mercy Corps também aceitam doações pelo site.

Depósito bancário

A ONG Viva Rio, que desenvolve projetos no Haiti, abriu uma conta para arrecadar doações:

Banco do Brasil
Agência 1769-8
Conta 5113-6

A Cruz Vermelha do Brasil também está recebendo fundos para ajudar as vítimas:

Banco HSBC
Agência 1276
Conta 14526 – 84
CNPJ 04.359688/0001-51.

Essas informações foram retiradas do Estadão, portanto, acredito que são verídicas. Mas eles alertam:

Cuidado com fraudes

O FBI soltou um comunicado na quarta-feira, 13, alertando para as pessoas tomarem cuidado com falsas campanhas de caridade na internet. “As tragédias anteriores trouxeram indivíduos com intenções criminosas para solicitar contribuições”, afirmou.

Na nota, o FBI dá dicas para “ter olho crítico” e conseguir reconhecer uma campanha de caridade falsa.

O Estadão também traz uma comparação mostrando como ficou o palácio presidencial:

Fotos: AP e Reuters. Montagem: Estadão

.Mais do que edifícios, o centro político do Haiti foi atingido. O Congresso também sofreu sérios danos, abalando ainda mais a estabilidade da primeira república negra do mundo.

Otávio Calegari Jorge, um dos brasileiros da Unicamp que está lá, traz uma nova noção ao que poderia parecer apenas mais uma tragédia: “O que presenciamos ontem no Haiti foi muito mais do que um forte terremoto. Foi a destruição do centro de um país sempre renegado pelo mundo. Foi o resultado de intervenções, massacres e ocupações que sempre tentaram calar a primeira república negra do mundo. Os haitianos pagam diariamente por esta ousadia”.

Agora podemos ajudar. Mas e daqui a um ano, ainda vamos nos lembrar do Haiti? É nisso que vale a pena pensar.

Atualização:

Os posts no blog dos pesquisadpores da Unicamp são realmente únicos por sua visão do que ocorreu e do que vai ficar. Tomo a liberdade de transcrever mais um trecho:

“A ONU gasta  meio bilhão de dólares por ano para fazer do Haiti um teste de guerra. Ontem pela manhã estivemos no BRABATT, o principal Batalhão Brasileiro da Minustah. Quando questionado sobre o interesse militar brasileiro na ocupação haitiana, Coronel Bernardes não titubeou: o Haiti, sem dúvida, serve de laboratório (exatamente, laboratório) para os militares brasileiros conterem as rebeliões nas favelas cariocas. Infelizmente isto é o melhor que podemos fazer a este país.

Hoje, dia 13 de janeiro, o povo haitiano está se perguntando mais do que nunca: onde está a Minustah quando precisamos dela?

Posso responder a esta pergunta: a Minustah está removendo os escombros dos hotéis de luxo onde se hospedavam ricos hóspedes estrangeiros. (…) A realidade, no entanto, já nos mostra o desfecho dessa tragédia – o povo haitiano será o último a ser atendido, e se possível. O que vimos pela cidade hoje e o que ouvimos dos haitianos é: estamos abandonados.”