imprensa
Pequeno manual de notícias falsas
Como saber se uma notícia veiculada na internet é falsa? Com um pouco de conhecimento e as ferramentas certas, é fácil desbaratar qualquer farsa. Basta querer.
Então vamos aos critérios:
1. Qual é a fonte?
A primeira pergunta para saber se uma notícia confiável é: de onde veio? Se você sequer sabe de onde o texto ou a imagem foram tirados, já é um indício de farsa. Se veio da (o) sua (seu) tia/prima/vizinho/amigo de infância, é outro indício de notícia pouco consistente porque, eles, assim como você, não devem ser especialistas no assunto. Blogs e páginas do Facebook das quais você nunca ouviu falar também são suspeitos.
Mas mesmo que as fontes sejam dúbias, isso não necessariamente anula a veracidade de uma notícia. Se algum amigo seu te ligasse no dia 1º de maio de 1994 falando que o Senna morreu, você duvidaria, certo? Qual é a primeira coisa que iria fazer? Ligar a TV para ver o que os jornais estão falando. Como jornalista, eu iria entrar na internet (finge que tinha internet na época) e conferir a capa dos principais portais de notícias. Leia o resto deste post »
A difícil relação entre fonte e repórter
Oh, amigos e parentes de jornalistas, tremei! Vocês ainda serão fontes. Jorrarão incessantes e verborrágicas cataratas de informações, enquanto o repórter recolherá uma cumbuquinha para molhar o seu pincel.
Explico: no jargão jornalístico, fonte é a pessoa entrevistada pelo profissional da notícia. O seu relato sobre uma experiência pessoal ou um assunto de sua especialidade enriquece e dá credibilidade ao texto. Pode acontecer inclusive de uma reportagem inteira depender do depoimento de uma única pessoa.
A fonte recebe o telefonema, e-mail ou visita do repórter, responde a dúvidas nas horas mais inconvenientes, fala sobre sua vida íntima e muitas vezes trata de temas espinhosos. Se não fossemos jornalistas com uma reportagem em vista, poderíamos ser claramente mal interpretados. Imagina ligar para alguém que você não conhece para perguntar: “Então, você foi a três ginecologistas e não conseguiu resolver o problema? Me conta mais?” É preciso credencial e expertise.
Em várias ocasiões, a fonte abre o coração e conta muito mais do que o repórter quer saber. É comum uma entrevista de duas horas render apenas uma frase e o entrevistado ficar decepcionado. Alguns também fazem pedidos impossíveis de atender, como aconteceu com uma amiga minha, que uma vez quase teve que se impor: “olha, eu não vou falar sobre o seu time de futebol amador na minha matéria sobre canoas!” Outra amiga, que escreve em revistas femininas, um dia não conseguiu deixar de se envolver com o depoimento que estava colhendo e soltou: “Olha, você vai ligar pra ele e terminar tudo a-go-ra! Acorda, esse cara tá te enganando!”
Brincadeiras a parte, essa é uma relação delicada. A fonte muitas vezes é colocada em um patamar abaixo do leitor. Eu discordo dessa posição. Acredito que o entrevistado merece tanto respeito como quem lê o jornal a procura de informação. Muitos profissionais (e aqui falo de forma genérica) fazem promessas a seus entrevistados que sabem que não poderão cumprir. Outros escondem que são jornalistas ou mentem sobre o objetivo da reportagem. Na melhor das hipóteses, há também quem desconsidere um simples feedback para dizer quando a matéria irá sair.
Muito respeito com as fontes. Antes de serem parte da engrenagem da notícia, elas são pessoas reais com histórias que diriam respeito a mais ninguém, não fosse o fato de serem altruístas o bastante para escolherem compartilhá-las. Se um jornalista não consegue ver isso, pode estar na profissão errada.
Jorrarão incesante e verborragicamente cataratas de informações, enquanto o
repórter recolherá uma cumbuquinha para molhar o seu pincel. Explico: no
jargão jornalístico, fonte é a pessoa entrevistada pelo profissional da
notícia. O seu relato sobre uma experiência pessoal ou um assunto de sua
especialidade enriquece e dá credibilidade ao texto. Pode acontecer
inclusive de uma reportagem inteira depender do depoimento de uma única
pessoa.
A fonte recebe o seu telefonema, e-mail ou visita, responde nas horas mais
incovenientes, fala sobre sua vida íntima e muitas vezes trata de temas
espinhosos. Se não fossemos jornalistas com uma reportagem em vista,
poderíamos ser claramente mal interpretados. Imagina ligar para alguém que
você não conhece para perguntar: “Então, você foi a três ginecologistas e
não conseguiu resolver o problema? Me conta mais?” É preciso credencial e
expertisse.
Em várias ocasiões, a fonte abre o coração e conta muito mais do que o
repórter quer saber. Por vezes fazem pedidos impossíveis de atender, como a
minha amiga que um dia quase teve que se impor: “não, eu não vou falar
sobre o seu time de futebol amador na minha matéria sobre canoas!” Outra
amiga, que escreve em revistas femininas, um dia não conseguiu deixar de se
envolver com o depoimento que estava colhendo: “Olha, liga pra ele e
termina tudo a-go-ra! Esse cara tá te enganando!”
Brincadeiras a parte, essa é uma relação delicada. A fonte muitas vezes é
colocada em um patamar abaixo do leitor. Eu discordo dessa posição.
Acredito que o entrevistado merece tanto respeito como quem lê o jornal a
procura de informação. Muitos profissionais (e aqui falo de forma genérica)
fazem promessas a seus entrevistados que sabem que não poderão cumprir.
Outros escondem que são jornalistas ou mentem sobre o objetivo da
reportagem. Na melhor das hipóteses, há também quem desconsidere um simples
feedback para dizer quando a matéria irá sair.
Muito respeito com as fontes. Antes de serem parte da engrenagem da
notícia, elas são pessoas reais com histórias que diriam respeito a mais
ninguém, não fosse o fato de serem autrístas o bastante para escolherem
compartilhá-las. Se um jornalista não consegue ver isso, pode estar na
profissão errada.
Da regulação e da censura
Vamos falar de regulação da mídia. É um assunto delicado. Isso porque toda vez que alguém vem com esse tema, algumas bandeiras são levantadas. A maior e mais reluzente delas diz “Não à censura!”. Eu concordo com esta bandeira. Acho que censura política é algo que deve aparecer apenas nos livros de história do Brasil.
Mas acho também que a mídia deve ser regulada.
É algo engraçado esse poder da imprensa. Alguns inclusive a chamam de quarto Poder, e a colocam ao lado do Legislativo, Executivo e do Judiciário. Pois bem. No que diz respeito aos três Poderes oficiais, temos órgãos que regulam e asseguram que nenhum deles saia da linha (ou pelo menos é isso que está escrito na Constituição). Isso se chama sistema de pesos e contra-pesos. Um exemplo disso ocorre no Supremo Tribunal Federal. Entre outras coisas, o órgão tem a atribuição de julgar processos contra o presidente. Mas para que um processo contra o líder da nação vá parar no STF, é preciso que ele passe pelo crivo do Legislativo. Entenderam como um vigia o outro?
É claro que esse mecanismo não funciona 100% no nosso país, mas considerem que sempre tivemos períodos relativamente curtos de democracia e faz pouco tempo que tudo é livre para funcionar da maneira que deveria.
Agora vem a questão: se a imprensa é o quarto Poder, porque é livre de regulação? Se a mídia tem a capacidade de moldar a opinião pública, não devíamos nos assegurar que ela cumpra bem o seu papel? Não deveríamos nos assegurar que suas ações sejam benéficas e não prejudiciais à sociedade?
A coisa fica ainda mais explícita quando se trata da televisão e do rádio. Ao contrário dos jornais impressos e revistas, essas duas primeiras mídias dependem de uma concessão para funcionar. Isso porque elas usam um bem público como meio de transmissão: o ar. Existe um limite físico no número de ondas de rádio e TV que podem ser transmitidos pela atmosfera. E quem escolhe que canais e estações terão o direito de chegar à casa dos brasileiros? O governo.
Para que esse bem público, a atmosfera na qual as ondas de rádio e TV são transmitidas, seja usado da melhor forma possível, os legisladores da Constituição Federal estabeleceram o seguinte:
“Art. 221. A produção e a programação das emissoras de rádio e televisão atenderão aos seguintes princípios:
I – preferência a finalidades educativas, artísticas, culturais e informativas;
II – promoção da cultura nacional e regional e estímulo à produção independente que objetive sua divulgação;
III – regionalização da produção cultural, artística e jornalística, conforme percentuais estabelecidos em lei;
IV – respeito aos valores éticos e sociais da pessoa e da família”
Alguém acha que esses preceitos estão sendo sendo seguidos corretamente pela maioria das emissoras? Alguém?
Jornalistas livres e críticos fazem um bem danado ao país. Estimulam o diálogo com o poder público e são um farol incansável apontando as falhas e desvios dos mandatários (por isso dizem que jornalista só gosta de ver defeitos). Por isso mesmo que regular não significa censurar. Regular não precisa impedir ninguém de expressar a sua opinião na TV. Regular pode ser estabelecer diretrizes. Diretrizes traçadas em comum acordo com toda a sociedade e que apontem para uma mídia mais plural, mais ética, mais educativa e, em última instância, formadora do caráter de um novo cidadão.
Agora, como é que vamos impedir que isso se torne um jogo político, isso são outros 500. Que também cabe a nós assegurar.